O Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) ampliou sua atuação na COP30 com eventos realizados na Blue Zone: espaço oficial das negociações da UNFCCC. Também teve início a programação da Casa Diálogo, sede temporária do CEBRI em Belém e novo ponto de articulação para especialistas, formuladores de políticas e lideranças da sociedade civil.
A Casa Diálogo é uma parceria entre o CEBRI e o Inter-American Dialogue, com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS) e patrocínios do Itaú, Vale, TIM, Fundação Konrad Adenauer (KAS Brasil) e Syngenta. Localizada próxima à Blue Zone, foi criada como um espaço para converter conhecimento técnico em cooperação concreta, conectando agendas de mitigação, adaptação, tecnologia e desenvolvimento sustentável.
“Building Tipping Point Governance” – Construindo a Governança dos Pontos de Inflexão (Tipping Points)
Organizado pelo Institutional Architecture Lab (TIAL), em coorganização com o CEBRI, University of Oslo, Institute of Advanced Studies e Universidade de São Paulo, o painel reuniu cientistas e lideranças para discutir como os sistemas globais de governança podem responder aos riscos associados aos principais elementos de inflexão do sistema terrestre, como a estabilidade da Amazônia e da circulação do Atlântico Norte (AMOC).
A partir da nota conceitual do Global Tipping Points Report 2025, o encontro discutiu propostas para estruturar uma rede global de Instalações de Monitoramento e Resposta a Elementos de Inflexão (TEMRFs), reforçando o papel da ciência na construção de mecanismos preventivos e sistemas de alerta capazes de antecipar riscos planetários.
Tecnologia e Florestas: Desbloqueando a Inovação para a Liderança Climática do Brasil
O primeiro evento da Casa Diálogo, coorganizado pelo CEBRI, Tony Blair Institute (TBI) e o Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio), reuniu especialistas para debater como tecnologias emergentes, incluindo inteligência artificial, plataformas de monitoramento florestal, geotecnologias e modelos inovadores de crédito de carbono, podem impulsionar a conservação florestal e o desenvolvimento rural sustentável.
Com abertura e moderação de Léa Reichert, Diretora Adjunta de Projetos do CEBRI, o painel recebeu André Oliveira, Assessor de Finanças Climáticas no TBI, Gabriella da Costa, Pesquisadora no ITS Rio, Rogério Cavalcante, Fundador da umgrauemeio, Grégory Maître, CEO da Morfo Brasil, Zé Gustavo Fávaro Barbosa Silva, Diretor Executivo do Fórum Brasileiro das Climatechs, Henrique Dolabella, Diretor do Cadastro Ambiental Rural do Ministério da Gestão e da Inovação, Marianna Budaragina, Assessora Sênior de Finanças Climáticas no TBI, e José Borges Frias Jr., Diretor de Inovação Corporativa da Siemens.
Em sua fala, Léa destacou que a tecnologia é essencial para o monitoramento florestal e a transição energética. Segundo ela, o país apresenta mais oportunidades de investimento e maior potencial de impacto positivo no PIB do que a média global. A especialista ressaltou ainda a importância do reflorestamento e do manejo sustentável da terra, setores capazes de gerar quase 1 milhão de empregos e impulsionar o PIB – e defendeu o reforço das políticas de comando e controle para conter o desmatamento e viabilizar a neutralidade climática.
Gabriella da Costa (ITS Rio) enfatizou que soluções digitais devem incorporar conhecimentos de comunidades locais e apresentou iniciativas de monitoramento com IA, como as conduzidas pelo Povo Kanindé, Um Grau e Meio, Previsia (Imazon) e SEEG, como exemplos de inovação alinhada à realidade territorial.
Na mesma linha, Rogério Cavalcante (Um Grau e Meio) destacou que a tecnologia aumenta a confiança no mercado de crédito de carbono e é essencial para aprimorar a gestão florestal. Grégory Maître (Morfo Brasil) apresentou soluções de ponta a ponta em reflorestamento, incluindo semeadura por drones, monitoramento digital e uso de IA, que reduzem custos e ampliam escala.
O debate também abordou os desafios de financiamento para a inovação. Zé Gustavo Fávaro Silva (Fórum Brasileiro das Climatechs) apontou a dificuldade de startups climáticas em acessar capital após as primeiras rodadas públicas da FINEP e ressaltou a falta de intermediários capazes de conectar empreendedores a financiadores. Para ele, destravar investimento é essencial para que o Brasil exerça seu enorme potencial de liderança em soluções tecnológicas climáticas.
Do ponto de vista institucional, Henrique Dolabella (Ministério da Gestão e Inovação) destacou o papel do Cadastro Ambiental Rural (CAR) como infraestrutura crítica para dar transparência e credibilidade aos dados ambientais. Ele reforçou que padronizar conceitos, métricas e bases de dados é fundamental e deve envolver governos, empresas, sociedade civil e cooperação internacional.
Por fim, os participantes convergiram na importância da colaboração. Marianna Budaragina (TBI) enfatizou que a cooperação entre governos, setor privado e sociedade civil — e também entre países — é decisiva para escalar soluções, especialmente em economias em desenvolvimento. José Borges Frias Jr. (Siemens) reforçou que parcerias público-privadas são essenciais para avançar no ritmo necessário e destacou a relevância de nano-fábricas locais, que geram impacto direto nas comunidades e se adaptam melhor às especificidades dos ecossistemas florestais.
O painel concluiu que a combinação entre inovação tecnológica, colaboração multissetorial e instrumentos financeiros adequados será determinante para que o Brasil consolide sua liderança climática e florestal nas próximas décadas.
Alavancando as Ações da COP para Enfrentar Superpoluentes e seus Impactos na Qualidade do Ar
Realizado no Pavilhão de Superpoluentes, na Blue Zone, o painel reuniu especialistas internacionais para discutir estratégias de mitigação de poluentes climáticos de vida curta, como metano, carbono negro e ozônio troposférico — que possuem impacto imediato sobre o clima, a saúde humana e a produtividade agrícola.
Com moderação de Thais Jesinski Batista, Gerente de Projetos do Programa de Transição Climática e Sustentabilidade do CEBRI, e abertura de Jane Burston, CEO do Clean Air Fund, a sessão destacou que:
Encerrando o painel, Izabella Teixeira, Conselheira Consultiva e Internacional do CEBRI e ex-Ministra do Meio Ambiente, reforçou:
“Precisamos traduzir a ciência de forma simples e tangível, mostrando como seus resultados afetam diretamente as pessoas e podem impulsionar ações concretas.”
Izabella destacou ainda que integrar clima, saúde e qualidade do ar é fundamental para ampliar o engajamento político, social e econômico, fortalecendo ações imediatas e de largo alcance.