O sistema internacional atravessa um ponto de inflexão marcado por múltiplas crises, pela crescente fragmentação e pela perda de legitimidade das instituições multilaterais. Com desigualdades crescentes, degradação ambiental, conflitos, insegurança alimentar e perda de confiança nas instituições democráticas evidenciam as limitações do modelo de governança global construído no século XX.
Diante desse cenário, a Fundação Rockefeller lança a iniciativa Build the Shared Future (Construir um Futuro Compartilhado). O projeto surge em resposta à necessidade de repensar os mecanismos de governança global e propõe repensar os modelos de cooperação global, combinando inovação, tecnologia e liderança local para enfrentar os desafios contemporâneos.
Uma pesquisa global de opinião pública marcou o início da iniciativa, buscando fazer um snapshot de como a comunidade internacional vê a cooperação internacional hoje e as instituições responsáveis por enfrentar os desafios atuais. Entre 8 de agosto e 10 de setembro de 2025, foram entrevistados 36.405 adultos em 34 países, revelando percepções significativas:
A pesquisa aponta para o fato que o apoio à cooperação internacional é amplo, mas frágil. Para manter o apoio, é crucial demonstrar que compromissos internacionais trazem benefícios concretos para as pessoas - como empregos, estabilidade, saúde e segurança. Sem resultados visíveis, o apoio pode se deteriorar rapidamente.
Acesse o relatório completo: Demanding Results: Global Views on International Cooperation.
O CEBRI atuará como interlocutor da Fundação Rockefeller na América Latina e no Caribe, liderando um processo regional de diálogo e construção coletiva. Diante da limitada participação da região nos principais espaços de decisão global, o CEBRI busca articular uma visão latino-americana para a cooperação internacional no século XXI, refletindo seus valores e prioridades e fortalecendo sua voz nos debates internacionais, com base nos princípios de legitimidade, inclusão e eficácia.
Por meio de encontros regionais (convenings), o CEBRI reunirá representantes da sociedade civil, juventude, setor privado, academia e governos em espaços de escuta e debate. As percepções coletadas serão sistematizadas e analisadas de forma crítica, identificando tanto aspectos relevantes quanto aqueles que requerem adaptação às realidades da região.
Ao longo do projeto, serão produzidas publicações complementares que aprofundam temas críticos para a região, e o processo será plenamente documentado, incluindo resumos dos debates, identificação de consensos e divergências. Os insumos gerados ao longo desses diálogos subsidiarão a elaboração de uma Declaração Final, que apresentará dez princípios orientadores para um novo modelo de cooperação internacional mais legítimo, inclusivo e eficaz, adequado às realidades do século XXI.
No dia 24 de outubro, a Casa COP do CEBRI sediou o primeiro convening do projeto, em formato de workshop, reunindo representantes de diversos setores da sociedade brasileira. A iniciativa teve como objetivo produzir insumos para a Declaração Final do projeto. O evento reuniu setores diversos de atuação, como sociedade civil, juventude, iniciativa privada e academia para identificar e visualizar, de forma colaborativa, as causas, os problemas centrais, e os efeitos dos desafios regionais relacionados às seguintes eixos específicos para a cooperação internacional:
Sob a liderança de Matias Spektor, Senior Fellow do CEBRI, Professor Titular e Vice-diretor da Escola de Relações Internacionais da FGV, o debate destacou a importância de colocar os cidadãos no centro das políticas internacionais, de fortalecer a transparência e a participação local, e de tratar a comunicação como pilar estratégico para uma cooperação mais próxima, legítima e transformadora.
O segundo encontro ocorreu em 29 de outubro, durante a Conferência Southern Voice, evento internacional bienal que reúne mais de 50 think tanks do Sul Global. O encontro promoveu um diálogo plural sobre os caminhos para tornar a cooperação internacional mais eficaz e orientada a resultados, gerando impactos concretos na vida das pessoas.

O terceiro encontro foi realizado em 13 de novembro, em parceria com o Fedesarrollo (Centro de investigación económica y social), instituição colombiana fundada em 1970 que realiza pesquisas sobre políticas econômicas e sociais voltadas ao desenvolvimento do país. A reunião reforçou a relevância regional do projeto e destacou a contribuição da Rede CEPAS na promoção de reflexões coletivas sobre o futuro da cooperação internacional e o papel da América Latina nesse contexto.
Rede Cepas: A Rede de Centros de Pensamento das Américas (CEPAS) foi criada em 2024 com o propósito de estabelecer um espaço permanente de diálogo, cooperação e articulação regional entre think tanks das Américas.
Durante a COP30, em Belém, as discussões e entrevistas apontaram a necessidade de modernizar o conceito de cooperação internacional. Foi destacada a importância de maior clareza e coerência regional para que a América Latina tenha presença mais articulada nos espaços globais de decisão. Novos modelos de cooperação, como o BRICS, foram mencionados como alternativas relevantes, especialmente quando fortalecidos por iniciativas comunitárias e investimentos de longo prazo.
No dia 26 de novembro, tivemos nosso último encontro, na Cidade do México, onde as discussões ressaltaram a necessidade de reposicionar a cooperação internacional diante de um distanciamento das realidades locais, uma comunicação ineficiente e agência/autonomia transformadora limitadas. Os participantes destacaram a heterogeneidade de entendimentos sobre cooperação, que envolve confiança, equidade, sustentabilidade e segurança, e identificaram problemas estruturais como burocratização, queda de financiamentos, indicadores inadequados e dependência de agenda de doadores. Como caminhos, surgiram propostas centradas em indicadores qualitativos, fortalecimento da coerência estratégica entre agendas e financiadores, comunicação profissionalizada e integração entre níveis global-nacional-local. O encontro reforçou que reconstruir a cooperação exige aprofundar vínculos territoriais e compromissos de longo prazo.