Hoje (3 de outubro), o CEBRI promoveu, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, a conferência “Brasil em Trajetórias Sustentáveis: Caminhos de Competitividade para a Descarbonização”. O encontro reuniu representantes dos setores público e privado, da academia e da sociedade civil para debater os caminhos da transição energética no Brasil.
A conferência marcou o lançamento do Relatório Executivo da segunda fase do Programa de Transição Energética (PTE), iniciativa que tem como objetivo oferecer subsídios técnicos para a formulação de políticas públicas, estimular investimentos e ampliar o engajamento com a agenda climática. O estudo analisa alternativas ligadas à infraestrutura, tecnologia e inovação, propondo trajetórias que possam orientar o país rumo à neutralidade de carbono até 2050.
A abertura institucional contou com a presença de Luiz Ildefonso Simões Lopes (CEBRI e Brookfield Brasil), Luciana Costa (BNDES) e da Embaixadora Tatiana Rosito (Ministério da Fazenda).
Na exposição inicial, Luciana Costa ressaltou que parte das recomendações do relatório já se encontram em fase de implementação pelo governo brasileiro. Ela destacou o potencial do Brasil de assumir protagonismo climático:
“Quando o PTE diz que o Brasil tem potencial para se tornar líder climático, entendemos que ainda há muito a ser feito para chegar lá. Mas é fundamental olhar para o que já foi realizado, para saber de onde partimos e onde queremos chegar.”
A diretora também enfatizou a relação entre transição energética e infraestrutura:
“Investir em transição energética é também investir em infraestrutura. O Brasil tem vantagens comparativas únicas: terra, combustível de baixo carbono, água, um sistema elétrico sofisticado. Em 2023, o investimento em infraestrutura foi de aproximadamente R$ 260 bilhões, dos quais cerca de R$ 80 bilhões tiveram financiamento do BNDES.”
Na sequência, a Embaixadora Tatiana Rosito reforçou o papel estratégico do Brasil:
“O setor de agricultura, florestas e uso da terra é fundamental para toda a trajetória de transição energética. Temos grandes desafios, mas também oportunidades. Trabalhos como o do PTE são parte essencial dessa solução, oferecendo conteúdo técnico e legitimidade para a agenda.”
A Embaixadora destacou ainda que, sob a presidência brasileira do G20, a sustentabilidade e a transição climática foram colocadas no centro da trilha de finanças — um marco inédito. Em sua fala, listou prioridades para viabilizar a transição, como (i) reforma de bancos multilaterais para ampliar o financiamento externo; (ii) fortalecimento da capacidade doméstica, por meio de políticas fiscais e aprofundamento do mercado financeiro; (iii) mobilização de capitais privados para soluções baseadas na natureza; (iv) incorporação dos riscos climáticos na regulação financeira.
O relatório do PTE2 apresenta três cenários prospectivos para a descarbonização:
Martha Carvalho (BID) ressaltou a importância de reduzir riscos para atrair a iniciativa privada, destacando que a mobilização de investimentos será essencial para que o Brasil avance na agenda da descarbonização.
Na mesma linha, Roberto Schaeffer (COPPE/UFRJ) afirmou que apenas será possível cumprir metas ambiciosas de redução de gases de efeito estufa se toda a economia estiver contemplada. Ele enfatizou que, devido ao peso do agronegócio, o Brasil terá dificuldades em zerar emissões de metano e de fertilizantes, tornando imprescindível compensar esse impacto com a neutralização total das emissões de CO2, um esforço que classificou como “hercúleo”.
Carlos Eduardo Cabral (EPE) sublinhou que os resultados do Programa oferecem uma base robusta para a tomada de decisão, pois permitem quantificar impactos econômicos, geração de empregos e investimentos em diferentes cenários. Para ele, a transição energética não se resume a metas nacionais, mas depende de mudanças específicas em cada setor da economia, articuladas de forma coerente e viável ao longo do tempo. O especialista destacou, ainda, que o PTE2 comprova que o Brasil dispõe de múltiplos caminhos factíveis para alcançar a neutralidade climática em 2050, conciliando crescimento econômico, segurança energética e redução de emissões, e destacou que o legado do programa vai além dos números, ao demonstrar como processos de diálogo estruturados podem transformar incertezas em estratégias para construir o futuro desejado.
João Marcos Senise Paes Leme (MRE) reforçou a importância da agenda energética no contexto da COP30, e destacou a necessidade de descarbonizar o sistema elétrico, responsável por três quartos das emissões de gases de efeito estuda. Segundo o Diretor do Departamento de Energia do MRE, essa transição passa por enfrentar o desafio da demanda energética, garantindo ao mesmo tempo a oferta de alternativas renováveis às fontes não sustentáveis.
Nesse sentido, Mariana Espécie (MME) destacou que a transição energética transborda o setor elétrico e requer articulação interministerial e coordenação dentro do governo, além do engajamento do setor privado. Ela ressaltou que “não há avanço sem o setor privado” e que a agenda só se tornará viável se for tratada como tema transversal, capaz de envolver diferentes áreas e políticas públicas.