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Special Section

The Russia-Ukraine War: Impacts on Regional and International Security

New Dynamics of Armed Conflict in post-Cold War Europe

Abstract

The war between Russia and Ukraine has placed significant international and regional security pressures in Eurasia. It exposes a synchronous security dilemma related to NATO's expansionism over Russian borders and the growing Russian military presence on the border with Ukraine. This dilemma is reinforced by the systemic territorial and geopolitical dynamics that oppose the interests of actors capable of global action, especially the United States and China, through old and new forms of expansionism, thus strengthening new dynamics of war in post-Cold War Europe.

Keywords

Russia; Ukraine; security dilemma; war; NATO.
Image: Canva.

A data de 24 de fevereiro de 2022 entra para a história como um marco importante no repertório de conflitos bélicos nas últimas décadas em terras euroasiáticas. Importante ter em conta que esta guerra repercute sobre um emaranhado de outros tantos embates que vêm ocorrendo na região desde o século IX, quando os países eslavos, transferindo de geração em geração o sentimento de disputa territorial, chegaram a se enfrentar em conflitos armados, levando os fatos a transformar a geografia e a política por muitas vezes.

Vale ressaltar a existência de raízes culturais e de um senso de pertencimento à terra que, de certa forma, os unem, mas também contribuem para a rivalidade quanto à posse do território, gerando uma disputa secular de proporções agigantadas. Sem dúvidas, as raízes culturais, a proximidade linguística e a posição geográfica do Leste Europeu são fatores genuinamente fortes na compreensão do vínculo existente entre os povos da região.

A verdade é que as implicações históricas e a natureza conflitiva dos povos eslavos são tantas, que se torna quase impossível atribuir a origem do conflito atual entre a Rússia e a Ucrânia a um só fator. Entre os fatos mais relevantes da história da região, há de se destacar que Kiev, a capital da Ucrânia, já chegou a ser a capital da Rússia, na época em que as províncias eslavas estavam agrupadas. Daí vem a razão para o apelo utilizado no discurso de Putin na justificativa de que a ação tomada pelos russos se tratava de um movimento de integração da região, tal qual como houve no caso da guerra da Crimeia. De acordo com o discurso de Vladimir Putin, a ação militar é justificada pela necessidade e vontade dos povos de retomar a unicidade da região “como sendo um só povo”[1].

No mapa da Figura 1 é possível visualizar como era a composição geográfica do antigo Império Russo. Dessa forma, fica evidente a interconexão entre as áreas que hoje fazem parte de território de outros países, como Finlândia, Polônia e, logicamente, Ucrânia. A Ucrânia era parte importante do Império Russo, visto tratar-se de uma região privilegiada de acesso às águas quentes do Mar Negro, o que ajudava a escoar a produção russa e impulsionar o comércio, já que no lado oriental russo as águas normalmente ficam congeladas durante boa parte do ano (Magocsi 2010). A mesma condição estratégica se aponta para a península da Crimeia, localizada logo abaixo da Ucrânia, a qual também era território russo na época do Império e que, depois de ter sido palco de intensas disputas, após o conflito de 2014 voltou finalmente a ser reintegrada ao território russo. Historicamente, essa região é cenário de conflitos armados e muita rivalidade. Um lugar importante tanto econômica quanto politicamente. 

Figura 1 – Mapa do antigo Império Russo. Fonte: Ministry for Culture and Heritage (2014).

Figura 1 – Mapa do antigo Império Russo. Fonte: Ministry for Culture and Heritage (2014). 

Daí porque as problemáticas de ordem geopolítica, econômica e cultural, que levaram a Rússia a invadir a Ucrânia no dia 24 de fevereiro de 2022, não foram apenas fatores isolados de motivações recentes. Há de se considerar que diversos eventos históricos se somam ao sentimento russo de recomposição e expansão na região e, sobretudo, de profundos conflitos domésticos ainda não resolvidos pelos ucranianos, haja vista a existência das áreas separatistas que ainda usam o russo como idioma principal e possuem um forte sentimento de pertencimento à Rússia. Para os ucranianos, a situação conflitiva no país vem de muitos anos. Não é novidade que os separatistas têm encontrado no governo russo uma força de apoio, tanto que Vladimir Putin já vinha ensaiando um movimento aberto de apoio político e militar à independência de cidades de maioria de etnia russa, como Luhansk e Donetsk, na região Leste da Ucrânia.  E, naturalmente, esses movimentos separatistas se intensificaram ao longo dos anos e ficaram ainda robustos com o apoio russo. Tudo isso é tão forte e intenso na região, que a situação doméstica na Ucrânia serviu de estopim para alimentar o discurso e as ações russas na fronteira. Foi então que Vladimir Putin veio justificar o movimento do exército na fronteira. Veja no mapa da Figura 2 como o governo russo cercou o país em favor do Leste da Ucrânia, o que, por conseguinte, culminou na invasão russa.

No entanto, o movimento militar na fronteira da Ucrânia sem um anúncio de uma guerra entre os dois países, em plena crise pandêmica que assolou o mundo todo, surpreendeu parte do mundo que, apesar de reconhecer a existência de um conflito na região ao nível político, não esperava um posicionamento militar tão repentino. Vale salientar que o ataque russo aconteceu três dias depois do anúncio do presidente russo de que Moscou iria reconhecer oficialmente como estados independentes as repúblicas separatistas de Donetsk e de Luhansk, no Leste da Ucrânia. Os territórios reconhecidos por Putin foram além das áreas controladas pelos separatistas pró-Rússia.  

Figura 2 – Cerco russo ao território ucraniano. Fonte: Reprodução de mapa publicado pela CNN Portugal (2022).

Figura 2 – Cerco russo ao território ucraniano. Fonte: Reprodução de mapa publicado pela CNN Portugal (2022). 

A insegurança causada na região pela disposição que o governo ucraniano já demonstrava em relação à sua adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e à União Europeia (UE) serviu de catalisador ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Ademais, o tom expansionista nos discursos de Vladimir Putin, naturalmente, intensificou a tensão. Um outro fator importante que contextualizou as tensões na região foi o  agravamento da crise energética, que o governo de Kiev acredita ter sido provocada intencionalmente por Moscou. Pela Ucrânia passam dois dos importantes gasodutos, o Soyuz e o Brotherhood, que abastecem o restante da Europa com a produção russa de gás. 

O mapa da Figura 3 apresenta os gasodutos instalados pela Rússia em território ucraniano. A partir dessa imagem, pode-se ter uma visão da rede de gasodutos que atravessa a Europa do Leste. O governo de Kiev considerava a presença dos gasodutos na Ucrânia um elemento de proteção contra uma invasão da Rússia, já que qualquer ação militar poderia interromper o fluxo vital de gás para parte da Europa (Rodrigues 2022).  

Figura 3 – Mapa com gasodutos russos instalados em território ucraniano. Fonte: Infográfico publicado pela CNN Portugal (Rodrigues 2022)

Figura 3 – Mapa com gasodutos russos instalados em território ucraniano. Fonte: Infográfico publicado pela CNN Portugal (Rodrigues 2022). 

…o argumento deste artigo é que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia desencadeou fortes pressões sobre a segurança internacional e regional na Eurásia, que revivem dilemas regionais de segurança, tensões geopolíticas expansionistas e reanimam novas formas de guerra na Europa. 

Assim, o argumento deste artigo é que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia desencadeou fortes pressões sobre a segurança internacional e regional na Eurásia, que revivem dilemas regionais de segurança, tensões geopolíticas expansionistas e reanimam novas formas de guerra na Europa, aspectos todos muito capitalizados por dinâmicas territoriais ainda não resolvidas. Porém, o conflito não só expressa o deflagrar de dinâmicas de segurança regional, mas também fatores  geopolíticos  sistêmicos que  envolvem e opõem  interesses de atores com capacidade de ação global, como os Estados Unidos, a  China e a própria OTAN. O artigo é dividido em três partes: na primeira, examinamos as recíprocas ameaças russo-ucranianas; na segunda e na terceira, nos debruçamos sobre o impacto do conflito sobre a guerra na Eurásia (e as causalidades territoriais); e,  na última parte, trabalhamos brevemente  o vínculo da guerra com os aspectos sistêmicos, especialmente a aliança russo-chinesa. 

O DUPLO DILEMA DE SEGURANÇA SINCRÔNICO E AS RECÍPROCAS AMEAÇAS RUSSAS-UCRANIANAS     

Alguns pesquisadores como John Mearsheimer (2022) acreditam na responsabilidade do Ocidente e da OTAN pelo deflagrar do conflito. O contínuo expansionismo da OTAN sobre as fronteiras russas, ao incorporar na estrutura de sua organização ao menos 11 países do Leste europeu (a maior parte dos quais estavam na área de influência do bloco soviético nos anos da Guerra Fria), teria produzido, dessa forma, fortes  temores  na liderança  russa sobre as reais intenções dos Estados Unidos e da União Europeia sobre as  fronteiras  russas.  

Por outro lado, um segundo argumento é que o fornecimento de armas e de treinamento militar por parte da OTAN à Ucrânia poderia ter sido visto pelo governo russo como uma ameaça. O mapa da Figura 4 apresenta uma análise do crescimento da organização antes e depois da Guerra Fria (CNN Español 2022). 

Figura 4 – Membros Europeus da OTAN. Fonte: Mapa editado pelos autores a partir de gráfico publicado pela CNN Español (2022).

Figura 4 – Membros Europeus da OTAN. Fonte: Mapa editado pelos autores a partir de gráfico publicado pela CNN Español (2022).   

Outros movimentos políticos na região, assim como o crescente aumento do número de países-membros da OTAN junto à fronteira com a Rússia, poderiam ter aumentado ainda mais essa sensação de ameaça. Por exemplo, a OTAN já tinha tropas na Europa Oriental antes mesmo de que as tensões entre os dois países tivessem ganhado contornos de guerra. E aumentou ainda a tensão à medida que a Rússia foi adentrando sobre território da Ucrânia (Braun 2022). 

 A própria OTAN, inclusive, já admitia que grupos de combate multinacionais, liderados pelo Reino Unido, Canadá, Alemanha e Estados Unidos, estavam presentes na Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia. Nas próprias palavras da OTAN, essas eram "forças robustas e prontas para o combate", e, segundo o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, a aliança estava preparada para reforçar rapidamente essa presença enviando reforço e recursos adicionais para a área, caso fosse necessário (Tadeu 2022). Essas afirmações da OTAN haviam sido reforçadas antes mesmo do movimento concreto de invasão, quando o presidente americano Joe Biden sustentou que os EUA estariam preparados para enviar tropas para reforçar os aliados da OTAN na Europa Oriental em "curto prazo" (Cook & Harney 2022). 

No entanto, antes mesmo do anúncio de Biden, o governo dos Estados Unidos já havia colocado cerca de 8.500 soldados norte-americanos em alerta máximo para um possível deslocamento para a Europa Oriental, enquanto vários países-membros da OTAN, como o Reino Unido, haviam começado a enviar armas e munições para a Ucrânia (incluindo 300 mísseis antitanque Javelin, 800 bombas destruidoras de bunkers e centenas de milhares de munições). O Reino Unido, por sua vez, ainda entregou novas armas antitanque leves para a Ucrânia, e o governo da República Tcheca enviou outros 4.000 projéteis de artilharia (Braun 2022).  

É tarefa árdua diagnosticar se foi a OTAN quem primeiro lançou os sinais e a predisposição ao dilema de segurança naqueles territórios do Leste da Europa, ou se, objetivamente, a inversão da posição histórica dessa organização teve um impacto decisivo nas percepções de ameaça pela Rússia. Importante relembrar que, quando a OTAN foi criada em 1948, sob os auspícios da administração americana de Harry Truman, tinha como principal objetivo geopolítico conter o avanço da influência socialista da União Soviética na região da Europa Ocidental e na Eurásia, como nos casos da Turquia e da Grécia.  Mas esse papel nos anos do pós-Guerra Fria vem sendo percebido num sentido reverso pela elite russa e também por alguns pesquisadores internacionais (Mearsheimer 2022). 

Isso significa que, paradoxalmente, uma vez que houve a incorporação das ex-Repúblicas Soviéticas ao quadro estrutural militar da OTAN, foi a própria organização quem passou a ser percebida como uma figura expansionista, alargando-se em direção à Eurásia. Levando-se em consideração os discursos recentes do líder russo, na leitura de cenário geral feita pela Rússia, a própria OTAN e, por consequência, os Estados Unidos, estariam delegando, numa análise mais estratégica do conflito, esse papel expansionista da organização, e, nesse caso, com baixos custos políticos e diplomáticos para o governo americano, já que estaria agindo por trás da organização para atingir seus próprios interesses.

Acontece que, ao se sentir cercada por potenciais inimigos, a Rússia optou por agir de maneira preemptiva,  quer dizer, antecipando a ameaça que poderia ser iminente (Mearsheimer 2022). Essa situação foi percebida pelas lideranças soviéticas como uma reedição da Doutrina Truman da contenção do expansionismo soviético nos finais dos anos 1940, porém numa estratégia de  sentido reverso,  com  a  OTAN recebendo o delegado papel de “expansionista”. Seria exatamente como em 1948, quando houve uma ação similar com aplicação da tática do diplomata George Kennan, porém operando-se uma paradoxal inversão doutrinária e operacional dos famosos conselhos de Kennan a Truman[2].

Complementarmente, na mesma perspectiva de avanço e expansão, a elite russa poderia estar enxergando um expansionismo híbrido reforçado pelo expansionismo soft utilizado pela União Europeia. Considerando que muitos dos países que formam parte da União Europeia são da Europa do Leste, esse fato gera também temores na Rússia de que o expansionismo não seja só de natureza territorial e militar. Para a diligência russa, a possibilidade do ingresso da Ucrânia na União Europeia não é um acontecimento neutro ou motivado só por razões de ampliação do mercado econômico para a Ucrânia.  Em 2014, por exemplo, os EUA apoiaram a derrubada do então governo de Kiev, que estava sob pressão russa para não assinar um acordo comercial e político com a União Europeia. Provavelmente, procurando uma compensação a esse fato, a reação russa foi agir para anexar a província da Crimeia naquele mesmo ano. Dessa forma, a elite russa interpretou que o ingresso da Ucrânia na União Europeia poderia minar as demandas históricas da Rússia sobre a Crimeia, região de forte minoria russa-eslava[3]

No entanto, os dilemas de segurança não se limitam às percepções de ameaça da elite russa. Do outro lado, pesquisadores como Freire (NUPRI 2022) acreditam numa política racional e planejada do Kremlin, sob a direção do líder Vladimir Putin, gerando assim um dilema de segurança sincrônico em que ambos os lados se ameaçam inicialmente e em que, à diferença do tradicional, um Estado B reage ao movimento de ameaça militar iniciado pelo Estado A, de maneira reativa. De fato, ao  longo do ano de 2021 e início de 2022, a Rússia foi alocando forças militares de mais de 100.000 soldados na fronteira com a Ucrânia – incluídos 21.000 soldados de reforços aéreo e marítimo, assim como equipamentos militares – mísseis táticos operativos e forte atividade de inteligência (CNN Español 2022).  

Porém, talvez o que mais aguçou o dilema de segurança nas fronteiras entre a Rússia e a Ucrânia tenha sido a estratégia sincrônica que a Rússia foi montando ao longo dos últimos anos, como mostra o mapa na Figura 5, em que o cerco militar à Ucrânia evidentemente aumentava a sensação de ameaça existencial ao futuro do país. As bases militares russas permanentes foram crescendo a partir do Oeste da  Ucrânia, reforçadas por bases provisórias na região de Belarus, ex-República Soviética que permanece forte aliada da Rússia, e que se estendem ao Leste da Ucrânia até chegar à Crimeia.  

Figura 5.1 - Legenda

Figura 5 – Presença militar russa na fronteira com a Ucrânia antes do conflito. Fonte: Desenho gráfico adaptado do mapa publicado pela CNN Español (2022), baseado nas informações obtidas em 28 de janeiro de 2022.

Figura 5 – Presença militar russa na fronteira com a Ucrânia antes do conflito. Fonte: Desenho gráfico adaptado do mapa publicado pela CNN Español (2022), baseado nas informações obtidas em 28 de janeiro de 2022. 

Nessas condições, em que se percebia afrontada militarmente, era quase  impossível que o temor de uma invasão ou uma ocupação militar não se  apoderasse da liderança ucraniana. Assim, o lado mais fraco começou a apelar para a implementação de uma deterrence estendida[4] por parte de seus aliados na Europa Ocidental, na OTAN e dos Estados Unidos.  

É claro que o dilema de segurança sincrônico entre a Rússia e a Ucrânia não teve o seu princípio entre 2021 e 2022, como já mencionamos na introdução deste artigo. Ele  aparece como uma espiral de conflito em alguns contornos definidos em vários eventos que precedem o conflito bélico atual: na invasão  russa à Crimeia em 2014; no governo de separatistas pró-russos na província de Donbass (ao Leste da Ucrânia); no ingresso e apoio militar de países do Leste europeu (aliados da URSS na Guerra Fria) à Ucrânia; e nas pressões da própria OTAN sobre as fronteiras russas. O resultado foi a explosão de um conflito, em finais de fevereiro de 2022, com um ponto de intersecção de mútuos dilemas de segurança, que conduziram inevitavelmente à guerra.   

Hipoteticamente, se poderia afirmar que a Rússia, ao tomar a iniciativa da  invasão ao território da Ucrânia,  poderia sentir mais temor que a própria Ucrânia em relação ao seu futuro. Considera-se aqui a complexidade em resolver o dilema de como neutralizar uma aliança militar como a OTAN; por fim, no pior dos cenários, o resultado seria ter a OTAN como vizinha hospedada pela Ucrânia em sua fronteira. No entanto, embora possa ser considerado o estado agredido, a Ucrânia, ou melhor, a liderança ucraniana teria tanto temor em relação a seu futuro quanto a própria Rússia. Não parece racional que alguns de seus movimentos, como tentar seu ingresso na União Europeia e na OTAN, pudessem atenuar esses temores existenciais. Na verdade, esses movimentos, aparentemente pouco racionais ou estratégicos, aumentavam ainda mais o temor e a disposição de agredir da Rússia, o que se poderia também considerar como indicadores mais objetivos de que naturalmente se criou um tom recíproco de temor e rivalidade entre os dois países. 

Talvez mais do que um autêntico ato ofensivo, a  Rússia estaria fazendo uso da doutrina da guerra preemptiva, “tão popularizada pelo presidente W. Bush nos anos que se seguiram aos ataques terroristas aos EUA em setembro de 2001”[5], pela neutralização assim dos alvos militares de alto valor estratégico,  lastreada como uma forma de legítima defesa preventiva ou antecipada, ou mesmo sob a indumentária de uma legítima defesa preemptiva (Netto 2020). Essa direção também foi apontada no mesmo sentido pela argumentação de John Mearsheimer (2022). No entanto, a Ucrânia poderia ter desenvolvido também uma ação preemptiva, mas esta correspondeu à Rússia, não só porque possui mais operacionalidade nas suas capacidades militares, mas também porque a estratégia russa de cercar militarmente a Ucrânia, de Oeste a Sul do país, deixou as lideranças civis e militares ucranianas neutralizadas para  executar o primeiro ato de preemption. Nessa perspectiva, se trataria de um ato de defesa russo, um preemptive strike  para evitar um  ataque iminente, mas que poderia, igualmente, ser efetuado pela Ucrânia, desde que a guerra preemptiva estivesse baseada em fatos percebidos como reais e irrefutáveis (hard evidences), reveladores da iminência de um ataque. Dessa forma, a guerra preemptiva não se apresentou para a elite política russa como uma escolha, mas como uma necessidade, embora sob essa mesma rationale a Ucrânia poderia ter realizado um  ataque preemptivo (um first strike) sobre a Rússia.  

OS IMPACTOS DA GUERRA SOBRE A EUROPA

Quando observados alguns indicadores de conflitos internacionais, como o Data Conflict da Uppsala University, algumas tendências são retratadas quanto à natureza dos conflitos violentos contemporâneos. 

Primeiro, se denota a existência de um crescimento dos conflitos dentro dos Estados, ou intraestatais (entre governos e grupos civis ao interior de um território, ou mesmo guerras civis), que têm mantido a mesma frequência de antes de 1991 e, de outro lado, uma tendência para a queda na ocorrência de conflitos inter-estatais (entre estados ou países). No pós-Guerra Fria, existem mais conflitos internos nos Estados: “Enquanto há mais paz entre os Estados do sistema internacional, há mais guerra dentro das sociedades dos Estados” (Chahab 2018).

No entanto, essa conclusão não parece captar alguns dos desvios quanto aos conflitos interestatais: primeiro há de se notar que uma boa parte deles tem sido originada na  Eurásia pela Rússia sob a liderança de Vladimir Putin. Dos dez conflitos interestatais das primeiras décadas deste século, 50% aconteceram na região da Eurásia e 50% na região do Oriente Médio – destaca-se o forte envolvimento de Israel  com a  Faixa de Gaza e, em menor medida, com o Líbano em confronto com o Hezbollah (UPPSALA Data  Program  2022). 

Em segundo lugar, a Rússia de Putin tem emergido como uma potência  anti-status quo, fortemente revisionista territorialmente, principalmente no seu entorno estratégico da Eurásia, fazendo uso da força militar na região em várias  ocasiões. Desde que Vladimir  Putin chegou ao poder, em 1999, a Rússia  já se envolveu numa  guerra (interestatal) com a Chechênia (1999-2000), em outra com a Geórgia (em 2008) e no atual conflito armado na Ucrânia (fevereiro de 2022-presente). A Rússia invadiu militarmente, em 2014, o território da Crimeia e se envolveu também na guerra civil da Síria (desde 2015), onde segue com presença militar em apoio às forças do presidente Bashar al-Assad[6]

Além disso, desde 2014 a Rússia ainda apoia os grupos separatistas pró-russos de Donbass, na Ucrânia. Isso significa que a Rússia se envolveu em quase um terço dos dez conflitos interestatais ocorridos nas primeiras décadas do século XXI, e em 27% dos 22 conflitos internacionais (guerras entre Estados, guerras civis, crises militares, conflitos entre Estados e atores não estatais armados) das primeiras décadas do século. Além de serem um alto percentual para um único país, esses dados significam também que a Rússia vem emergindo como o grande poder revisionista na região euroasiática.  

A ocorrência dessas guerras e o lugar da guerra interestatal nas preocupações internacionais como um aspecto relevante de suas atividades mostram  que pode ser muito precoce a hipótese de que a guerra internacional (entre Estados) seja uma instituição histórica em declínio, que tenderia a ser  substituída ou pelo conflito intraestatal (guerras civis, guerras domésticas por ideologias, por identidades ou por recursos), ou por novas  guerras, que envolvem situações de guerras civis com um misto de combatentes  estatais (polícia e exército) e grupos armados violentos, cujos objetivos são privados (o lucro) e não o interesse  nacional (segurança de Estado), ou, ainda, objetivos próprios da guerra interestatal (Kaldor 2019). 

As percepções de ameaça, securitizadas pelas elites nacionais,  derivadas ou de pressões militares, territoriais, de recursos naturais, ou até mesmo de identidade, ainda são capazes de gerar dinâmicas securitárias que conduzem aos dilemas de segurança. Esses dilemas podem ganhar uma proporção de conflito armado quando os medos e temores sobre as intenções  ofensivas do estado vizinho (ou de alianças político-militares) não estejam claramente desvendadas, ou mesmo quando essas desconfianças possam ser potencializadas por causas nacionalistas ou por agentes externos. 

Dessa forma, o conflito russo-ucraniano retoma aqueles dilemas de segurança conduzindo à explosão de mais uma nova guerra interestatal moderna. A própria  existência de atividades militares regularmente frente a outros Estados, como as da Rússia, mostra que a ideia de paz perpétua kantiana (Kant 1989) é uma meta pacifista que ainda está longe de ser atingida, porque a própria existência da unidade operativa da guerra, o soldado, sempre aponta para a existência de contextos que se fundamentam na ideia de que o “pior dos casos” (Brooks 1997), ou seja, ser atacado por outro lado, é sempre uma probabilidade, daí a razão pela qual as sentenças contundentes de John Herz (1950,157) continuam tão vigentes: 

Esforçando-se por obter segurança quanto a tais ataques, eles [os Estados] são movidos a adquirir mais e mais poder de modo a escapar ao impacto do poder alheio. Isto, por sua vez, torna os demais mais inseguros e os obriga a prepararem-se para o pior. Como ninguém pode jamais sentir-se inteiramente seguro em tal mundo de unidades em competição, segue-se uma competição por poder, e o círculo vicioso de acumulação de segurança e de poder está instalado 

Enfim, cortar o círculo vicioso da acumulação de poder (por razões de segurança) parece ser o ponto crítico que prospectivamente poderia determinar a ausência da guerra como instituição política. Enquanto as causalidades desse ponto crítico permaneçam, a guerra até poderá ter momentos de declínio, mas tais situações de não guerra não conduzem necessariamente à sua completa obsolescência. Ainda mais sobre essas causalidades estruturais que mantêm a guerra interestatal como instituição permanente no longo prazo. Assim, a guerra russo-ucraniana é um evento dos mais significativos na atualidade no que tange à repetição cíclica da guerra interestatal, num resultado histórico para o futuro muito além do papel que personalidades como Putin possam imputar à dinâmica do conflito.  

A guerra russo-ucraniana é um evento dos mais significativos na atualidade no que tange à repetição cíclica da guerra interestatal, num resultado histórico para o futuro muito além do papel que personalidades como Putin possam imputar à dinâmica do conflito.  

Em outras palavras, as dinâmicas das guerras não são casuisticamente individuais. As lideranças de grandes poderes nunca parecem descartar a guerra  quando têm por trás aspirações de objetivos nacionais que ultrapassam a própria figura individual da liderança, ou, ainda, quando seja expressa uma vontade coletiva ou de uma maioria para o movimento de um conflito.

Na verdade, a hipótese de que a guerra interestatal seja uma  instituição em declínio parece ser uma verdade parcial. Podemos considerar para esta análise o fato de não haver existência de guerras durante as últimas seis décadas em regiões como a América Latina e a Europa Ocidental como um caso anômalo (Holsti 1996), quase em extinção, nos quais as agrupações regionais de  Estados podem estar eliminando guerras entre eles por estarem construindo comunidades baseadas numa paz democrática, por assim dizer, numa comunidade de segurança[7]. Essas anomalias estão bem alinhadas aos dados sobre a  guerra. No percentual de conflitos interestatais por região (1946-2014), a América Latina responde só por 4% das  guerras interestatais, enquanto a Europa Ocidental respondeu, nesse mesmo período, por  2% (Villa 2020,177).

Porém, essas mesmas anomalias anotadas por Holsti (1996) não se aplicam a outras regiões do mundo em que as guerras interestatais continuam muito ativas. Nessas regiões, dada a regularidade com que conflitos bélicos acontecem ainda no século XXI, parece haver ainda uma continuidade para o futuro. Os dados atuais de pesquisadores dos estudos de segurança parecem corroborar essa hipótese. Por exemplo, no período entre 1946-2014, o Leste da Ásia respondeu por 40% das guerras interestatais, enquanto o Oriente Médio representou 25% delas. Na sequência, os conflitos do Sul da Ásia respondem por 16% do total dos conflitos (Villa 2020, 177). Já nas  primeiras décadas do século XXI, o Oriente Médio cresceu consideravelmente e logo respondeu por 50% das guerras interestatais, sendo a Rússia (na parte asiática) e o Leste europeu responsáveis pelos demais 50% dos conflitos que resultaram em guerras, entre elas a atual guerra entre Rússia e Ucrânia.

Isso significa, basicamente, que todas as guerras interestatais do século XXI estiveram concentradas em duas regiões do mundo. A inferência a partir desses dados parece bastante clara: o declínio da guerra  como instituto histórico das relações entre Estados  é  assimétrico entre as regiões do globo. Em algumas áreas, os dilemas de segurança, bem como as  dinâmicas e percepções de (in)segurança  específicas, assim como a potencialidade de conflitos gerados por  limítrofes territoriais e recursos naturais,  parecem  mais conectados às causalidades que afetam a segurança diretamente nessas regiões. Nesse sentido, a  guerra  Rússia-Ucrânia traz uma importante e relevante pergunta de pesquisa: Por que os conflitos e guerras acontecem com mais intensidade e regularidade em algumas regiões do mundo, enquanto em outras áreas a guerra parece uma anomalia, como sugere Holsti (1996), especialmente, em se tratando da América Latina? 

Certamente, a guerra russo-ucraniana é uma situação isolada e diferente,  porque ela não se esgota nos seus efeitos bilaterais nem regionais. Pelo contrário, ela traz impactos sistêmicos que vão além do palco da guerra: a sua deflagração envolve diversos alinhamentos diplomáticos e políticos, jogos de barganhas e interesses que hão de se encaixar numa geopolítica global, envolvendo os grandes atores do sistema para além dos países imediatamente envolvidos. Referimo-nos aqui aos Estados Unidos, à China e à própria Rússia (em diferentes ângulos e níveis), como mencionado anteriormente neste artigo, assim como a duas grandes organizações, a União Europeia e a OTAN. 

Dessa forma, a guerra russo-ucraniana tem um significado diferente  quanto aos realinhamentos políticos que produz no seu escopo, que vão além do regional, abarcando alianças sistêmicas (russo-chinesa de um lado e americana-europeia de outro). Certamente os realinhamentos securitários que a guerra russo-ucraniana produz também têm importantes impactos na segurança regional de outros atores, causados pelo potencial cenário de uma Rússia expansionista, que poderia agir para compensar seus medos e temores ao se expandir em direção a outros vizinhos para além do Leste europeu e dos  países bálticos, especialmente em países da região nórdica da Europa. É nessa gramática de guerra que se deve ler a decisão da Suécia e da Finlândia de quebrar um estado de neutralidade internacional, mantida  desde  finais da Segunda Guerra Mundial, para se alinharem aos países da OTAN, pedindo a  sua inclusão nesta aliança político-militar ocidental.  

Na  verdade, a quebra da neutralidade sueco-finlandesa se junta às expectativas e temores sobre os cenários do expansionismo russo.  

[Era] preciso fazer parte da aliança para obter apoio militar em seus territórios em caso de ameaças russas. O fim da política de neutralidade da Finlândia e da Suécia, mantida desde 1945, reflete essa realidade. Também mostra que a percepção de ameaça na Europa já não é mais a mesma do passado. A equidistância na balança de poder Leste-Oeste deu lugar à sensação de perigo (Chrispim 2022).   

Essa percepção foi recolhida por documento oficial do governo sueco, em que  justifica seu pedido de ingresso na OTAN, sinalizando que havia uma “deterioração do ambiente de segurança [na região]; como resultado das ações da Rússia” [e que] a invasão da Ucrânia pela Rússia é a mais extensa agressão militar na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. [Assim], os efeitos negativos  para a segurança europeia e internacional são de grande alcance”  (Government Offices of Sweden 2022, 7). De fato, a quebra de neutralidade daqueles dois países nórdicos foi um movimento de diplomacia securitária preventiva face a um cenário do “pior dos  casos”, para o qual alerta constantemente o realismo ofensivo (Brooks 1997). 

Essa percepção parece muito clara no documento citado do governo sueco:  “A agressão da Rússia contra um parceiro da OTAN – a Ucrânia – também destacou os compromissos limitados da OTAN com não aliados e tornou claro que o artigo 5º [ataque a um integrante se estende a toda a organização] aplica-se somente à defesa de seus aliados”. “A defesa coletiva da OTAN não inclui a dimensão dos parceiros” (Government Offices of Sweden 2022).  

A  formalização pretendida pela Suécia e também pela Finlândia de membro com status de aliado da OTAN e, o mais importante, a inclusão de ambos os países no mecanismo de defesa coletiva (art. 5º do Tratado da Aliança Atlântica do Norte) apontam para um cenário prospectivo em que ambos os países têm o entendimento de que fazem parte de um  típico cenário de o “pior dos casos”, como parte do alongamento territorial russo para territórios vizinhos.  

O movimento de saída da neutralidade desses dois países para uma posição de maior envolvimento em favor de uma das partes é notavelmente um cálculo arriscado por parte dos países nórdicos, porém a  percepção de ameaça russa ultrapassa uma posição de cautela que parece seguir o velho axioma de  Aron (1962) e Waltz (1979) de que o primeiro, e eterno, objetivo das unidades políticas estatais é a sobrevivência.  

O que o conflito russo-ucraniano representa para esses países é que, embora os dilemas de segurança internos à região nórdica com seus vizinhos ocidentais tenham sido substituídos por enraizados mecanismos de comunidades de segurança e paz democrática, outros dilemas de segurança continuam a existir no lado oriental das fronteiras, especialmente  no caso da Rússia. De  alguma  maneira, esses temores implicam ainda outra variável da  segurança europeia decorrente das dinâmicas de insegurança acarretadas com histórico de  conflitos territoriais na  Eurásia, variável esta vinculada ao conflito russo-ucraniano.   

AS DINÂMICAS TERRITORIAIS DO CONFLITO RÚSSIA-UCRÂNIA: UM NOVO EXPANSIONISMO?

Nem todos os conflitos territoriais não resolvidos geram dinâmicas de insegurança ou de guerras expansionistas. Isso não é obrigatoriamente uma constante em matéria de segurança, como já mencionamos no caso da América Latina, em que seus Estados ainda têm por resolver pelo menos dez conflitos territoriais; alguns desses se arrastam desde  o século XIX (citando por exemplo, o caso da  Bolívia e  do Chile, ou ainda da Guiana Inglesa ou da Venezuela) e nem sempre têm conduzido  esses países  latino-americanos a conflitos violentos entre Estados ou às fortes dinâmicas geopolíticas expansionistas. 

No entanto, como causalidade histórica, esses conflitos que envolvem  disputas territoriais ainda são uma causa profunda de conflitos armados, especialmente na região da Eurásia. No caso do atual conflito russo-ucraniano, as reclamações históricas da posse geográfica são uma causalidade importante,  embora, como dito anteriormente, não a causa única, mas talvez a principal. O que a guerra russo-ucraniana revela, no entanto, sobre essa dinâmica de conflitos territoriais é como esse evento bélico tensiona a segurança da região e, por consequência, afeta a segurança internacional.

Na região da Eurásia (especialmente no Oriente Médio, no Leste europeu e no Cáucaso) após a Guerra Fria, velhas disputas territoriais têm sido uma fonte importante de conflitos. Em países como Azerbaijão, Armênia, Chechênia, Daguestão, Geórgia e Moldávia, a maior parte dos conflitos em que tais países se envolveram nos últimos 20 anos incluiu o surgimento de territórios separatistas.  

Alguns dos mais notáveis contemporaneamente são: (i) o conflito entre Armênia e Azerbaijão, países transcontinentais situados no Leste europeu e na Ásia, na região denominada de Cáucaso. O conflito ocorre pelo domínio do território de Nagorno-Karabakh; (ii) a Chechênia e o Daguestão, duas repúblicas autônomas que fazem parte da Rússia, localizadas no extremo Sudoeste do país, desde o fim da União Soviética no ano de 1991, e que têm enfrentado as forças russas em pelo menos duas guerras, ambas nos anos 1990; (iii) no ano de 2008, ocorreu a chamada Guerra da Ossétia do Sul, território localizado na Geórgia, com fortes minorias russas. Antes disso, outra região separatista do país entrou em guerra civil, a Abecásia. Em ambos os casos, a Geórgia tentou interromper um movimento separatista pró-russo, mas a maciça intervenção militar russa em favor do  movimento separatista impôs um fim ao conflito. Como resultado, a Geórgia perdeu o controle de ambos os territórios; (iv) destaque também ao conflito da Transnístria, uma república separatista localizada entre os territórios da Moldávia e da Ucrânia no Leste europeu, tendo uma população formada por ucranianos, russos e moldavos. A região declarou sua independência da Moldávia logo após a dissolução da União Soviética, depois de uma guerra com a Moldávia, a chamada Guerra da Transnístria, ocorrida no ano de 1992.  Mais tarde foi realizado um referendo, em 2006, e a partir desse evento a Transnístria se declarou independente da Moldávia, mostrando um desejo da população de uma possível incorporação à Rússia (Magnotta 2022);  (v) finalmente, em 2014,  com  uma intensa  crise política ocorrida na Ucrânia, o presidente ucraniano alinhado com o governo russo foi deposto, levando a uma escalada de tensões internas promovidas por grupos separatistas pró-Rússia ao Leste da Ucrânia, favoráveis à independência da Ucrânia nas regiões de Donetsk e Luhansk. Com a forte instabilidade doméstica na Ucrânia, a Rússia invadiu militarmente e anexou a península da Crimeia ao seu território em 2014, justificando a  invasão sob o  argumento da  proteção aos cidadãos russos que viviam naquela região.  

É notável  que, em todos os conflitos nos quais territórios euroasiáticos estão envolvidos, dois aspectos sobressaem direta e indiretamente: a Rússia tem estado presente em quase todos com o uso da  força militar, e esse conflito é seguido de referendos políticos que procuram ratificar a adesão à Rússia ou a independência (pró-russa) de tais territórios anexados ou influenciados política  e  etnicamente, como no caso da Transnístria, Donetsk e Luhansk. Também é  evidente que existem fortes interesses geopolíticos russos vinculados, como a existência de importantes áreas estratégicas, a exemplo da Crimeia, ou na região da Chechênia, devido ao acesso ao mar Cáspio, além de ainda abrigarem oleodutos e gasodutos russos. 

Nesse sentido, poderíamos pensar que essas novas pressões territoriais  feitas pela Rússia são o retorno à geopolítica clássica, ao estilo da  região pivot de Mackinder (2011), e que o novo expansionismo russo tem a ver  com uma retomada das  pretensões históricas que acompanham  as elites políticas russas desde a época de Pedro, o Grande, e Catarina, a Grande, no século XVIII. Isso é uma forte evidência de que a Rússia segue com a tradição euroasiática de mais de dois séculos de continuidade de poderes expansionistas. 

Porém, a novidade é que esse expansionismo não se esgotaria na mera ocupação territorial, mas sobretudo se vale de mecanismos políticos de expressões pouco agressivas (soft power), como os referendos para as populações a fim de consolidar as formas de expansionismo. Assim, por um lado, vemos os casos da União Europeia avançando politicamente ao incorporar  como membros alguns estados do Leste europeu[8] e do Báltico na  sua estrutura; e, por outro lado, a Rússia valendo-se de mecanismos políticos para referendar  avanços territoriais e militares alavancando uma forma híbrida de expansão  contemporânea na Europa e introduzindo impactos e interesses sistêmicos (vindos desde outros superpoderes), o que nos conduz ao ponto final deste artigo, sobre como ler o impacto das competências de poder sistêmicas refletidas no conflito russo-ucraniano.   

A MULTIPOLARIDADE NA SEGURANÇA INTERNACIONAL NO COMUNICADO RUSSO-CHINÊS

O impacto de uma guerra na Europa tende a ser agravado por dificuldades que transcenderão a geografia militar regional. Certamente os cidadãos europeus vão pagar uma conta mais alta, especialmente quando o inverno chegar, por suprimentos como gás, petróleo e eletricidade. Isso sem contar a insegurança alimentar que se desenha no cenário com a ausência de provedores a substituir o que costumeiramente vinha do Leste europeu, especialmente cereais, trigo e grãos. 

A guerra desloca ainda o eixo econômico. Outros atores políticos como os EUA, mas principalmente a China, a qual vêm dando suporte às tentativas russas de se manter não apenas relevante aos antigos membros da URSS, mas também com poderio à altura de embates com os membros da OTAN, ganham destaque e se fortalecem no mercado econômico. A posição estratégica do apoio chinês e norte-americano, cada qual no seu restrito objetivo lado, condiciona não apenas as limitações econômicas que os europeus tanto do Leste como do Oeste devem enfrentar em poucos meses, quando o verão de 2022 acabar. Países como o Reino Unido já se mobilizam com uma renovação da matriz energética e com subsídio à população, para que o consumo de energia seja planejado a fim de evitar um golpe ainda mais duro na economia local.

Na outra ponta, a economia chinesa também vem se preparando, expandindo interesses políticos e econômicos. Coincidência ou não, a  invasão russa à Ucrânia  aconteceu vinte dias após a publicação de um comunicado conjunto entre Rússia e China[9],  na qual ambas estabeleceram, de maneira bilateral, grandes linhas de uma nova ordem internacional multipolar, assim como estabelecem grandes alinhamentos para a segurança internacional e chamam a atenção para os desafios para sua segurança, especialmente ao que chamam de “forças  externas”:   

A Rússia e a China se opõem às tentativas de forças externas de minar a segurança e a estabilidade em suas regiões adjacentes comuns, (Rússia e China) pretendem combater a interferência de forças externas nos assuntos internos de países soberanos sob qualquer pretexto e se opõem às revoluções coloridas, aumentando a cooperação nas áreas mencionadas (Kremlin 2022).   

A  declaração conjunta russo-chinesa não só foi a declaração mais contundente entre ambas as grandes potências asiáticas, ao mapear de  maneira enfática a agenda e os desafios de um mundo multipolar, mas é sobretudo a tentativa de lutar contra forças externas que minam a segurança e a estabilidade em suas regiões adjacentes comuns. É  muito clara também a declaração na sua  linguagem geopolítica dissuasória quando adverte outros grandes poderes do globo, como das Américas e da Europa, para não se transformarem em forças desestabilizadoras nas suas regiões contíguas. Sem muito esforço interpretativo, Rússia e China estão se referindo às pressões dos Estados Unidos e da mesma  União Europeia sobre o Leste europeu e a região báltica, além de parte do  Oriente Médio, no lado russo, e ao Leste asiático e parte do Sul da Ásia, especialmente em Taiwan, na parte chinesa. 

 Portanto,  em termos  regionais e geopolíticos,  a linguagem direta e dura do comunicado russo-chinês indica de onde vem a identificação da principal ameaça de natureza estatal e também esclarece que uma guerra preventiva – procurando debelar a ameaça, antes mesmo da efetiva deflagração de um ataque – ou uma guerra preemptiva – baseada em evidências fortes e irrefutáveis, reveladoras da iminência de um ataque – se projetam para a Rússia e a China como cenários militares possíveis no que consideravam seu entorno estratégico, ou seja, as regiões adjacentes a ambos os grandes poderes.    

Porém,  a declaração  russo-chinesa foi ainda mais explícita quanto à  securitização das ameaças para seu entorno estratégico, identificando claramente as alianças políticas e militares certamente ocidentais como responsáveis  por adensar  a concorrência  geopolítica no entorno estratégico com o objetivo de desenvolver vantagens militares unilaterais. Em relação a isso, a preocupação com a política de expansão da OTAN rumo ao entorno estratégico da Rússia é muito explícita e objeto de uma linguagem dissuasória:  

As partes acreditam que determinados Estados, alianças e coalizões militares e políticas buscam obter, direta ou indiretamente, vantagens militares unilaterais em detrimento da segurança de outros, inclusive empregando práticas de concorrência desleal, intensificando a rivalidade geopolítica, alimentando o antagonismo e o confronto, e comprometer seriamente a ordem de segurança internacional e a estabilidade estratégica global. As partes opõem-se a um maior alargamento da OTAN e apelam à Aliança do Atlântico Norte para que abandone as suas abordagens ideologizadas da Guerra Fria, respeite a soberania, a segurança e os interesses de outros países, a diversidade das suas origens civilizacionais, culturais e históricas e exerça uma atitude objetiva em relação ao desenvolvimento pacífico de outros Estados  (Kremlin 2022).   

Na  declaração percebe-se o alerta direto à OTAN, com especial ênfase para o que o documento chama de expansionismo da OTAN. Desde  o fracasso  da  OTAN em incorporar a Rússia (Webber et al 2012)  em  sua estrutura  nos anos 1990, a verdade é que, coincidindo com os apontamentos de  Mearsheimer (2022), o expansionismo político-organizacional da OTAN, especialmente ao incorporar na sua estrutura militar tanto países do Leste europeu (que pertenciam ao Pacto de Varsóvia, antiga estrutura militar  soviética  dos anos da Guerra Fria) como as ex-repúblicas soviéticas do Báltico (Estônia, Letônia e Lituânia) tem sido uma ação constante e gradual. 

 O documento identifica, numa perspectiva multidimensional, a Aliança Atlântica como um potencial  instrumento ocidental  de intervenção  em assuntos de soberania, de segurança e até culturais, no entorno estratégico especialmente da Rússia. De fato, a declaração russo-chinesa, além de  explicitar  os objetos  referentes à ameaça, utiliza uma gramática geopolítica própria  dos tempos da Guerra Fria,  quase nos mesmos termos da geopolítica clássica; no entanto, o objetivo do documento, quando se refere às “alianças e coalizões militares e políticas”, visa ainda a um objetivo dissuasivo que, logo, se  transformaria numa estratégia  preemptiva  em relação à Ucrânia e, indiretamente, à OTAN.   

Retrospectivamente, no comunicado de ambas as potências, embora a  China  por razões de necessidade (a  questão de Taiwan) se visse solidária à  Rússia, a verdade é que a elite política russa amarrou o apoio da China, ou no mínimo a sua neutralidade, ante o iminente ataque à Ucrânia. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS  

É correto afirmar que fatores de ordem geopolítica e territoriais expansionistas tanto da Rússia quanto da OTAN estão na base da casuística que tensiona atualmente a segurança  internacional, especialmente na região da Eurásia. Porém, colocado nesses termos, se abusaria de uma visão histórica determinista, que, na verdade, é muito mais complexa e só se pode compreender sob a luz da interdependência de múltiplos aspectos de segurança internacional multidimensional, bem ilustrados pelo conflito russo-ucraniano. 

A guerra em si, na verdade,  ativou  a  dinamização da  interdependência de  fatores  multidimensionais à segurança internacional, pois os impactos não se esgotam  na geopolítica  nem nos mútuos dilemas de segurança. A guerra russo-ucraniana revelou impactos na segurança internacional cuja casuística não é unidimensional (militar/geopolítica) e sim multidimensional. A invasão militar russa por terra, aérea e marítima na Ucrânia se interliga a fatores  geopolíticos de segurança energética (a construção do Nord Stream 2 e seu impacto sobre a segurança  no Leste Europeu  e de segurança  humana  dos cidadãos da Europa Ocidental  com a possibilidade de ver seus suprimentos de gás diminuídos). Concomitantemente, os acontecimentos geopolíticos se desdobram numa outra dimensão da segurança humana, como é o fato de hoje  existirem milhões de refugiados ucranianos pressionando junto às fronteiras do Leste europeu e da  Europa Ocidental. 

Para se ter uma ideia do impacto, até início de junho de 2022, as autoridades haviam registrado a partida de oito milhões de civis (ACNUR 2022), número obtido pela quantidade de passagens registradas nas fronteiras dessas regiões saindo da Ucrânia. Paralelamente à situação, entre esse contingente de milhões de refugiados ainda existe o problema de segurança alimentar, face à atenção nutricional a um imenso grupo de pessoas, sem contar o cessar da importante produção ucraniana que supria grãos a diversos outros países europeus.    

Para além desses pontos supracitados, o conflito russo-ucraniano também  tem outros impactos, como a questão simbólica das identidades, já que  quase  todos os que estão nas regiões do Leste europeu e da Ásia  Central, onde há forte relação com o território e a ancestralidade do local. A guerra russo-ucraniana não é só uma disputa pela apropriação de territórios, ou um conflito originado pelos dilemas de segurança mútuos da Rússia e da OTAN, mas também se trata de uma intensa  disputa discursiva em que a guerra é justificada  em nome da defesa  e proteção dos direitos e da autodeterminação de minorias, no caso de minorias russas. A guerra russo-ucraniana consolida um padrão de  conflito que aparece recorrentemente nas várias disputas e guerras da Eurásia, que vão desde Bósnia-Herzegovina até este derradeiro conflito.   

Certamente, a constatação sobre a multidimensionalidade dos impactos da guerra sobre a segurança regional e internacional também não deve perder  de  vista o fato de que a guerra russo-ucraniana é  a mais forte manifestação de  um mundo multipolar também no tabuleiro militar, revisando com isso, a  metáfora dos três tabuleiros de xadrez de Joseph Nye (2002), que ainda enxergava para inícios deste século a unipolaridade no tabuleiro global militar. Ainda mais relevante, todavia, persistem, como afirma o realismo ofensivo de Mearsheimer (2001), Estados  revisionistas, que desde as guerras napoleônicas caracterizam e marcam a história euroasiática.   

Notas

[1] Em 21 de fevereiro de 2022, o presidente russo Vladimir Putin falou à imprensa sobre a situação do conflito na Ucrânia. Ele reconheceu Donetsk e Luhansk como repúblicas independentes do governo ucraniano e justificou o nacionalismo russo, assim como enalteceu o orgulho e a importância da união dos povos do antigo Império Russo (Fisher 2022).

[2] O diplomata norte-americano George Kennan havia enviado, diretamente da embaixada americana em  Moscou, um longo telegrama ao governo Truman, documento diplomático que passou a ser conhecido como Longo Telegrama. Nesse documento, Kennan detalha suas teses de por que os soviéticos buscavam ampliar seu poder e salientava que a melhor maneira de fazer frente à URSS era por meio de forte resistência nos locais onde os soviéticos buscassem a expansão, dando com isso lugar ao que se conhece  historicamente como doutrina da Contenção ou Doutrina Truman (Gaddis 2012).

[3] Em 2014, as manifestações na capital ucraniana, que ficaram conhecidas como Euromaidan, depuseram à força o presidente ucraniano Viktor Yanukovych que vinha se posicionando a favor da Rússia, depois de este ter recusado assinar um acordo de associação com a UE. A resposta russa foi a anexação da península ucraniana da Crimeia e a incitação a uma rebelião separatista no Leste da Ucrânia, controlando parte da região de Donbass. Entre 2015 e 2019, houve uma série de ações de protestos de ambas as partes. O presidente eleito Zelensky elevou a expectativa nacionalista e pôs mais força à disputa com a Rússia. O presidente Zelensky foi uma peça importante para a Europa ocidental. Ele foi a face de negociações político-econômicas entre o Ocidente e a Rússia, que, no entanto, não tiveram muito avanço. O impasse deixou os líderes europeus envolvidos num impasse, explorando a possibilidade de um canal de negociação estabelecido entre França, Alemanha, Rússia e Ucrânia para resolver o conflito no Leste da Ucrânia – conhecido como as negociações do Formato da Normandia.

[4] Uma deterrence estendida é aquela situação em que o sistema de dissuasão de um poder estatal preserva tanto este como, por extensão, os aliados. Por exemplo, o sistema nuclear americano em relação a seus aliados ocidentais ou asiáticos.

[5] De acordo com Lawrence Freedman (2004, 2), “no decurso de 2002, o presidente George W. Bush pôs em execução o que aparentava ser uma mudança radical na política de segurança dos EUA, passando da dissuasão à preempção”. Seguindo a preemption, deu-se a intervenção no Afeganistão e, dois anos mais tarde, a intervenção americana no Iraque, baseada nas suspeitas de existência de armas de destruição em massa e de ligações a organizações terroristas.

[6] A Rússia tem duas bases militares na Síria: o aeródromo de Hmeimim, no Noroeste do país, e o porto de Tartus, mais ao Sul. Mais de 63.000 militares russos já atuaram na campanha síria (UOL 2022).

[7] A ideia fundamental é que Estados eliminem as guerras enquanto as democracias não lutam entre si, dado o compartilhamento de valores democráticos liberais, criando com isso identidades ou comunidades de segurança, que permitem que os Estados eliminem seus conflitos violentos, ou que pratiquem mecanismos de resolução pacífica de conflitos.

[8] Em 17 de junho a Comissão Europeia fez formalmente a recomendação para o ingresso da Ucrânia na organização. O período de cinco anos para oficializar a candidatura já começou a correr. Isso não significa que os eventos de guerra tornem a Ucrânia automaticamente elegível para ocupar um posto de Estado-membro, mas serve de forte amparo à recomendação feita pelo comitê de candidaturas.

[9] Joint Statement of the Russian Federation and the People’s Republic of China.

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Recebido: 26 de junho de 2022

Aceito para publicação: 13 de agosto de 2022

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