Estudo do CEBRI, BID, EPE e Cenergia, desenvolvido no âmbito do Programa de Transição Energética, aponta desafios e rotas da transição brasileira

  • 15 fevereiro 2023

Atingir o NetZero até 2050 pode requerer tornar as emissões de CO2 negativas até 2040. Esta é uma das conclusões de um estudo inédito, fruto de uma parceria entre o núcleo Energia do CEBRI, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e o Cenergia (COPPE/UFRJ). O estudo evidencia que, embora o Brasil se encontre em um estado avançado no que se refere à transição energética, novas tecnologias e novos vetores energéticos são fundamentais para alcançar a ambição climática de neutralidade líquida em gases de efeito estufa (GEE) até 2050. Além disso, é necessária, em curto prazo, uma profunda mudança nas emissões decorrentes das dinâmicas do uso da terra e do desmatamento. Se até o fim desta década o país não conseguir eliminar o desmatamento ilegal, não há viabilidade técnica e realista para zerar os GEE até 2050, como prevê compromisso nacional no Acordo de Paris. 

O relatório final do Programa de Transição Energética, disponível AQUI, apresenta três cenários de transição energética para o país até 2050: "Transição Brasil”, Transição Alternativa” e "Transição Global". Os cenários são usados para explorar diferentes opções de mitigação de emissões, apresentando trajetórias de emissão convergentes com objetivo de neutralidade de carbono no Brasil até meados do século.

Os cenários "Transição Brasil” (TB) e Transição Alternativa” (TA) são construídos com base nos compromissos assumidos pelo país em sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC). Ambos indicam trajetórias custo-eficientes para o país a partir de diferentes entendimentos sobre a evolução das políticas públicas, dos consensos sociais, dos comportamentos de empresas e consumidores, e de como são desenvolvidas e difundidas novas tecnologias. Já no cenário “Transição Global” (TG), a trajetória de descarbonização é moldada a partir da contribuição do Brasil em um mundo alinhado para limitar o aumento médio da temperatura superficial global em até 1,5°C.

Com uma matriz energética em que aproximadamente metade da energia primária provém de fontes renováveis, o Brasil está bem posicionado na trajetória para uma economia de baixo carbono. O estudo, porém, mostra que serão necessárias mudanças na matriz energética e na dinâmica da participação das diferentes fontes de energia para zerar as emissões de GEE, não excluindo a participação do setor de óleo e gás no processo. Para Jorge Camargo, Vice-Presidente do Conselho Curador do CEBRI e coordenador do projeto, a riqueza gerada por esta indústria, caracterizada no Brasil pela baixa intensidade de carbono e baixo custo, irá contribuir para o financiamento da transição energética e das inovações tecnológicas necessárias até 2050.

Os cenários, portanto, detalham possíveis trajetórias de descarbonização e trazem novos desafios e oportunidades para o Brasil. Como observa Rafaela Guedes, Senior Fellow do CEBRI e Gerente Executiva de Responsabilidade Social na Petrobras, o país detém 20% das melhores oportunidades de soluções baseadas na natureza e deve colocar como prioridade aproveitar este potencial, conciliando seus objetivos alimentares, energéticos e ambientais.

“Os resultados do Programa mostram que o Brasil pode se posicionar como um hub energético global, liderando uma transição energética justa, inclusiva e eficiente. Para isso, será necessário aprimorar e criar marcos legais e regulatórios adequados e mobilizar grandes investimentos. O BID está pronto para continuar apoiando técnica e financeiramente nesses dois eixos fundamentais para catalisar esse processo”, afirma Morgan Doyle, representante do BID no Brasil.

O relatório apresenta nove propostas para a transição energética. Elas abrangem compromissos públicos e privados e reforçam a meta brasileira de contribuir decisivamente para o objetivo global de reduzir as emissões de GEE e limitar o aquecimento global. "O Programa de Transição Energética é importantíssimo para a EPE e para o Estado brasileiro, pois contribui para formar consensos sobre dilemas, incertezas, desafios e oportunidades para os stakeholders e a sociedade como um todo”, afirma o ex-presidente da EPE, Thiago Barral.

Está disponível AQUI o caderno executivo que sintetiza os principais dados e resultados do PTE. Confira! 

O estudo foi coordenado por Jorge Camargo, Vice-Presidente do CEBRI, Rafaela Guedes, Senior Fellow, e Gregório Araújo, Pesquisador Sênior. O Programa de Transição Energética conta com o patrocínio de Engie, Equinor, Neoenergia, Shell e Siemens Energy e o apoio de BMA Advogados.

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