The article analyzes the origins of the liberal order and its current crises. It explores the ideological debates shaping Western politics, the rise of national populism, the fragmentation of international institutions, the challenges of globalization, and the impact of new communication technologies. The author argues that, despite being under pressure, the liberal order still provides a framework for global governance. The article offers an analysis of the future of international relations in a multipolar world.
“Este é o modo como o mundo termina: não com um estrondo, mas com um suspiro.” O verso de T. S. Eliot em “Os Homens Ocos” (1925) capta o colapso silencioso de uma civilização dilacerada por conflitos, na qual reinam o vazio e o relativismo. A destruição ocorre de forma apática e silenciosa, como um som abafado pelo desencanto. Essa imagem – a de uma sociedade que desaba em apatia – pode oferecer uma metáfora poderosa para compreender o destino da ordem internacional em nossos tempos: não um colapso abrupto, mas uma lenta fratura, talvez irreversível.
A “ordem internacional” pode soar como um conceito abstrato, sobre o qual poucas pessoas pensam a respeito. Mas foi a ordem construída desde o fim da Segunda Guerra Mundial que possibilitou um período longo de relativa paz e estabilidade, a criação de uma economia globalizada, o aumento da cooperação entre nações, a ampliação do intercâmbio e das trocas. Essa ordem foi marcada pelo estabelecimento de normas e regras globais, pela promoção do livre comércio, pela força política das democracias de mercado e pelo desenvolvimento tecnológico. Hoje, essa ordem cedeu lugar a um mundo fraturado pela perda de confiança em instituições, pela força de movimentos populistas e autoritários, por divisões políticas e sociais, por intervenções militares, guerras e conflitos, por disputas comerciais.
A ascensão e o declínio dessa ordem foram debatidos por algum tempo. Os últimos anos, porém, trouxeram à tona novos elementos que oferecem uma perspectiva ampla sobre as crises múltiplas que a afligem: da guinada nacionalista nos Estados Unidos aos conflitos no Leste da Europa e no Oriente Médio, do aumento do protecionismo comercial à crise climática. Foi com o objetivo de organizar e dar sentido ao momento histórico no qual vivemos que escrevi o livro “Mundo fraturado: reflexões sobre a crise da ordem liberal” (Matrix Editora, 2024).
Minha intenção com o livro foi trazer ao Brasil o debate sobre as transformações da ordem global. O foco da minha análise é o mundo que começou a surgir em 1989 com a queda do Muro de Berlim. Aquela época apontava para um futuro que parecia mais promissor do que ele é hoje. Atualmente, lidamos com os fracassos das promessas desse mundo de 1989 – ou com os fracassos das promessas da ordem liberal.
O que deu certo e o que fracassou? Para responder a essa pergunta, busquei avaliar quatro áreas que considero essenciais para compreender a ordem contemporânea. São elas: as ideias que moldam a política; as instituições e os regimes internacionais; a globalização econômica; e as tecnologias de comunicação e de redes.
Cada uma dessas quatro áreas foi fundamental para a construção e para o sucesso da ordem liberal. Cada uma delas, contudo, tem sido marcada por fraturas – resultantes de uma luta de forças, como na Física: forças de coesão contra forças de dissonância. Neste artigo, apresento os principais argumentos que exploro no livro e avalio como as contradições da ordem liberal nos convidam a revisitar o passado e repensar o futuro das relações internacionais[1].
AS ORIGENS MÚLTIPLAS DA ORDEM LIBERAL
O conceito de “ordem” é fundamental para a análise das relações internacionais. O sistema internacional é naturalmente marcado por disputas políticas, militares e econômicas. Na história, vários impérios tentaram impor uma ordem internacional por meio do domínio de outras nações e povos. Mas esse domínio imperial sempre se mostrou frágil e limitado. Desde a era moderna, o sistema internacional é descrito como “anárquico”, pois não existe uma autoridade soberana acima dos Estados que detenha o monopólio do uso da força, com capacidade de impor uma ordem.
Anarquia, porém, não significa caos ou desordem. O sistema internacional permite uma variedade de padrões de interação: Estados podem estabelecer princípios, normas e regras, negociar acordos e tratados, bem como desenvolver mecanismos para administrar conflitos. Estados também podem criar instituições para ampliar as oportunidades de cooperação.
A ordem internacional em que vivemos é fruto desse processo colaborativo. Ela foi erguida sob os escombros da Segunda Guerra Mundial. Essa ordem preserva em sua raiz um componente importante do liberalismo clássico – uma suspeita com o uso indiscriminado do poder. Ela resguarda a perspectiva de que o exercício do poder deve ser restringido, articulado e mediado por meio de princípios, normas, regras e instituições.
No seu coração está a estrutura das Nações Unidas. O documento que criou essa organização estabelece valores e princípios que orientam a convivência entre os Estados – entre os quais a igualdade soberana, a autodeterminação dos povos e a solução pacífica de controvérsias. Hoje, essa ordem abrange outras organizações globais, como a Organização Mundial de Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, bem como entidades regionais, como a União Europeia, a União Africana e a Organização dos Estados Americanos (OEA). Além disso, grupos informais, como o G20 e o BRICS, e regimes internacionais, como o de comércio e o da mudança do clima, criaram mecanismos novos e flexíveis de cooperação.
John Ikenberry (2011) descreve a ordem liberal em que vivemos como fruto da difusão de valores ocidentais para formar um “espaço normativo universal”. No entanto, as origens dessa ordem são mais complexas, resultado da interação de distintos atores – ocidentais e não ocidentais. Após a Segunda Guerra Mundial, diversos países em desenvolvimento, por exemplo, lutaram contra o colonialismo, que muitos governos ocidentais ainda defendiam. Nas décadas de 1950 e 1960, o fim de enclaves coloniais, especialmente na África e na Ásia, foi um fator importante na construção da ordem internacional (Stuenkel 2024). Princípios como igualdade soberana e autodeterminação dos povos consolidaram-se no Direito Internacional, apesar da resistência inicial de potências ocidentais, sobretudo europeias. Outros valores importantes à ordem liberal – como participação política democrática, separação de poderes, direitos humanos, livre comércio – não são defendidos exclusivamente pelos países do Ocidente – os quais, muitas vezes, os desrespeitam.
O fim da Guerra Fria levou muitos analistas a descreverem a ordem internacional como “unipolar”, caracterizada pela hegemonia dos Estados Unidos. Nos anos 1990, essa visão parecia sustentar-se devido à superioridade militar, econômica e tecnológica de Washington. Contudo, rapidamente surgiram questionamentos sobre essa noção de “unipolaridade”, na medida em que outros países ampliaram sua influência global. O conceito de “multipolaridade” tornou-se mais adequado para descrever uma ordem na qual múltiplos atores disputam espaço e exercem poder em diferentes áreas. Uma ordem que se propõe multilateral, portanto, desautoriza a busca por hegemonias.
O conceito de “hegemonia”, porém, não é inútil. Embora nenhuma potência detenha domínio absoluto nas relações internacionais contemporâneas, um conjunto de países continua a moldar as normas e instituições globais: as democracias de mercado – Estados que combinam regimes democráticos com economias abertas (Viola & Leis, 2007).
Apesar das diferenças, as democracias de mercado compartilham bases institucionais comuns – como eleições regulares, estado de direito, separação de poderes, propriedade privada e livre iniciativa. Seus governos não são necessariamente sinônimos de “neoliberalismo”, abrangendo modelos distintos de social-democracia. Esses países, embora diferentes, mantêm interesses estratégicos comuns. Formam, em conjunto, uma força hegemônica coletiva. Eles exercem grande poder e influência na governança global, na formação de alianças militares, no comércio, nas finanças, no desenvolvimento tecnológico.
A ordem liberal, portanto, resultou de um esforço global. Essa ordem depende de um senso de legitimidade compartilhada para existir. Atualmente, diversas disputas políticas evidenciam a ausência de consenso – inclusive dentro do conjunto de democracias de mercado – sobre a configuração ideal dessa ordem.
A CORROSÃO DO LIBERALISMO NO OCIDENTE
Desde o fim da Guerra Fria, o liberalismo constitui o paradigma ideológico hegemônico do nosso tempo. A democracia liberal permanece como o principal modelo político e econômico que preserva uma mensagem universalista – e que se propõe a ser uma “herança ideológica comum para a humanidade”. Nesse sentido, Francis Fukuyama (2022) estava certo ao dizer que “ainda vivemos sob o fim da História”. Nenhum governo autocrático conseguiu oferecer, a longo prazo, um modelo de organização social tão atraente e sustentável quanto a democracia liberal.
Hoje, todavia, tem crescido a percepção, especialmente dentro do Ocidente, de que o liberalismo já não é mais capaz de responder aos anseios do povo: por igualdade, pelo desenvolvimento, pelo fim da discriminação, ou até pela manutenção de laços étnicos e comunitários. Fora do Ocidente, tem crescido a percepção de que o liberalismo é uma ideologia decadente e instável.
As críticas ao liberalismo não se limitam à esquerda ou aos socialistas – que há tempos alertavam para a desigualdade, a exploração dos menos favorecidos, a ganância corporativa e a degradação ambiental. Hoje, movimentos nacionalistas de direita também questionam o modelo liberal, impulsionados pelo desejo de renovação política. Esse sentimento reflete a crescente perda de confiança nas instituições tradicionais das democracias de mercado e nas elites que as governam. Essa crise de confiança é um fenômeno global, que pode ser observado da Alemanha ao Japão, do Brasil à Coreia do Sul, do México à França.
É nos Estados Unidos, contudo, onde essa crise de confiança tem se manifestado de forma contundente. A ascensão política de Donald Trump representou um golpe significativo no liberalismo ocidental, enfraquecendo o soft power americano – cuja força depende da atratividade de sua política interna, cultura e instituições. Com o liberalismo contestado dentro de seu reduto mais imponente, sua promoção no cenário internacional tornou-se consideravelmente mais difícil.
Sob a liderança de Donald Trump, o movimento conservador nos Estados Unidos passou por uma transformação profunda: abandonou o individualismo clássico, o laissez-faire econômico e a defesa da globalização, adotando uma visão nacionalista na economia e tradicionalista em questões sociais. O movimento Make America Great Again (MAGA) canalizou frustrações populares, posicionando-se como a voz do “cidadão médio” contra uma elite percebida como “distante”, “politicamente correta” e “insensível”. Essa retórica ressoou especialmente entre grupos que se sentiram economicamente desamparados e culturalmente marginalizados pelas mudanças sociais das últimas décadas.
Essa guinada ideológica não surgiu no vácuo. O pensamento que sustenta a nova direita pós-liberal no Ocidente tem raízes intelectuais sólidas. Embora impulsionada por circunstâncias políticas específicas, essa corrente foi moldada por ideias desenvolvidas ao longo do século XX por teóricos como Carl Schmitt, Oswald Spengler, Julius Evola, Alain de Benoist, Samuel Francis, Robert Nisbet e William Lind. Nos últimos anos, novos expoentes – como Patrick J. Deneen, Adrian Vermeule, Sohrab Ahmari e Éric Zemmour – deram continuidade a esse arcabouço teórico. Compreender tais ideias, ainda que se discorde delas, é essencial para captar o apelo do nacional-populismo na política contemporânea.
Esses pensadores não formam um bloco coeso, mas compartilham algumas premissas fundamentais. Além de contestarem intelectuais de esquerda, buscam desenvolver uma crítica própria ao liberalismo. Para eles, o liberalismo não apenas corroeu a coesão social, mas também abriu espaço para o avanço de ideologias progressistas que enfraqueceriam identidades nacionais e laços comunitários (Rose 2021).
Esses autores argumentam que, ao desarraigar as pessoas de comunidades e das tradições, o liberalismo desencadearia uma perigosa sensação de desprendimento – encorajando o egoísmo, o hedonismo e a mediocridade. Ao ampliar demasiadamente o mercado, o liberalismo geraria desigualdade e insegurança. Nos anos 1990, o ensaísta Samuel Francis descreveu a existência de uma base conservadora nos Estados Unidos formada por trabalhadores de renda baixa, para quem o nacionalismo e o populismo seriam mais relevantes que a ortodoxia de livre mercado (Francis 1996).
Hoje, destacam-se intelectuais como Patrick J. Deneen, autor de “Por que o liberalismo fracassou” (2018) e “Regime Change: Toward a Postliberal Future” (2023). Deneen tem se consolidado como o intelectual mais influente do pós-liberalismo contemporâneo nos Estados Unidos, influenciando políticos como JD Vance, o atual vice-presidente americano, e Peter Thiel, influente magnata do setor de tecnologia.
Deneen afirma que o liberalismo surge de uma redefinição da natureza da liberdade, entendida como “ausência de coerção”. De acordo com ele, a verdadeira liberdade viria do que os antigos chamavam de “autogoverno”. O caminho para atingir o autogoverno poderia ser encontrado nos costumes e nas tradições. Sem essas referências, a manutenção da ordem social dependeria apenas das leis e da regulação estatal. Segundo Deneen, o liberalismo – ao ignorar os costumes e as tradições – ampliaria a ingerência do Estado na vida dos cidadãos.
Dinâmica semelhante ocorreria no âmbito econômico: o liberalismo exigiria a demolição de quaisquer obstáculos à expansão do mercado. Antes um espaço definido e limitado dentro de uma sociedade, o mercado passaria a ser concebido como um espaço global, deixando muitos cidadãos à mercê de forças econômicas poderosas sobre as quais não possuem controle.
Na perspectiva de Deneen, as respostas eleitorais nacionalistas e populistas no Ocidente seriam uma reação à “ingovernabilidade dos domínios econômico e político”. O nacional-populismo seria a resposta encontrada por aqueles que enxergam o mundo criado pela ordem liberal como instável, incerto e inseguro. Esse movimento político visaria impor freios às “ambições universalistas” do liberalismo e a resgatar a primazia da comunidade, a defesa dos laços étnicos e religiosos, a soberania nacional, a proteção da economia local e o resgate das fronteiras.
No início deste século, o nacional-populismo emergiu em diferentes países como uma contestação aos princípios da ordem liberal. O apelo desse movimento tem se intensificado em um mundo marcado por riscos, incertezas e crises. A crise financeira de 2008, por exemplo, gerou impactos sociais e econômicos significativos, alimentando um sentimento generalizado de insegurança. Nesse cenário instável, muitas pessoas buscam proteção e estabilidade. O descontentamento com a ordem vigente favorece a ascensão de líderes carismáticos, que prometem solucionar desafios sociais com autoridade, frequentemente negligenciando normas, instituições e processos estabelecidos.
A democracia liberal, por sua vez, fundamenta-se em instituições, regras e procedimentos, e não na força política de um líder ou na arbitrariedade de um indivíduo. Um de seus princípios centrais é a valorização do processo institucional e não apenas dos resultados. A busca por soluções imediatas muitas vezes ocorre às custas do enfraquecimento institucional, causando mais turbulência e desordem.
A corrosão do liberalismo no Ocidente revela que os desafios à ordem contemporânea também são frutos de divisões profundas dentro das próprias democracias de mercado. Esse processo de fragmentação interna não apenas redefine o contexto político doméstico, mas também afeta a política externa, influenciando as instituições e a governança global.
INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS, “GLOBALISMO” E O RETORNO À ANARQUIA
A ordem liberal baseia-se na premissa de que os Estados são livres para perseguir seus interesses, desde que respeitem princípios, normas e regras compartilhadas. Essa ordem também se fundamenta na ideia de que instituições internacionais, como as Nações Unidas e a OMC, trazem benefícios práticos, como a facilitação da cooperação e a redução da incerteza. Nos últimos anos, porém, muitas instituições têm sido contestadas, enfraquecidas e debilitadas.
Políticos nacionalistas no Ocidente afirmam que organizações internacionais teriam “sequestrado” a soberania dos Estados. Eles alegam que a ordem liberal deu origem a uma ideologia – chamada de “globalismo” – que busca a internacionalização da política, a construção de um aparato burocrático e a transferência de poder das autoridades locais a organismos supranacionais. Outros criticam essas organizações por achar que elas são ineficientes, que não apresentam soluções, ou que perderam a capacidade de ação em um mundo marcado por guerras e conflitos.
Essas críticas têm fundamentado a percepção de que a política externa de muitos países ocidentais não deveria ser limitada por instituições ou por normas multilaterais – ou até por compromissos com aliados. A doutrina America First, por exemplo, reflete essa visão nos Estados Unidos, argumentando que as instituições e alianças restringiriam os interesses norte-americanos. Seus defensores reconhecem um mundo multipolar e consideram a ordem liberal como obsoleta. Eles propõem uma mudança de rumo para “preservar recursos” e garantir “autonomia estratégica” em um cenário global cada vez mais competitivo (Parsi 2025).
Não foi apenas nos Estados Unidos que a busca por autonomia nacional adquiriu relevância política. Esse tema foi fator relevante, por exemplo, para a saída do Reino Unido da União Europeia em 2016. A União era um exemplo bem-acabado de uma instituição que, com o tempo, passou a adquirir mais responsabilidades e influência nos rumos dos países que fazem parte dela. O Brexit foi resultado de uma campanha bem-sucedida de “retomada do controle” (take back control). Em grande medida, os arquitetos dessa campanha, como Dominic Cummings, buscaram levar os britânicos a responderem em quem eles mais confiavam para exercer o controle político do país e de suas fronteiras – no parlamento em Londres ou no parlamento da União Europeia em Bruxelas?
Para muitos, o Brexit tornou-se um símbolo da reação contra o avanço do “globalismo” e do resgate da autonomia nacional. Os nacionalistas acreditam que a expansão das instituições internacionais transferiu poder a uma elite burocrática distante das necessidades dos governados. Para eles, o exercício da política, para ser eficaz, deve estar mais perto do povo representado. As críticas às instituições internacionais, todavia, não se limitam aos “antiglobalistas”. Outros as criticam por ineficiência, afirmando que são estruturas obsoletas, inoperantes e incapazes de oferecer respostas concretas às crises globais, como a pandemia, a mudança do clima e os conflitos militares.
É necessário tomar essas críticas com ceticismo. A existência de problemas globais não leva necessariamente à transferência de poder decisório para as instituições internacionais. Muitos desses problemas requerem respostas locais. Além disso, cabe lembrar que organizações internacionais não se sobrepõem à soberania dos Estados. Elas são uma das ferramentas à disposição dos governos para encontrar soluções viáveis aos problemas que enfrentam. Princípios, normas e regras globais são referências para orientar a ação dos Estados – como uma “gramática” para a conversa política. O diálogo multilateral, dessa forma, pode ser uma expressão do interesse nacional. O aparato normativo da ordem liberal pode servir aos interesses dos países ao facilitar a cooperação, reduzir incertezas e promover a existência de uma sociedade de Estados.
Vale lembrar que a trajetória da governança global nunca foi linear – tampouco isenta de contradições. O descumprimento de normas e compromissos internacionais por parte das grandes potências não é novidade histórica, mas, sim, um traço recorrente da ordem vigente. Ao longo do século XX, países ocidentais apoiaram golpes contra governos democraticamente eleitos no Irã, na Guatemala e no Chile, e travaram guerras para preservar enclaves coloniais e zonas de influência na Argélia, no Vietnã e no Camboja.
No século XXI, a invasão do Iraque em 2003, conduzida sem autorização do Conselho de Segurança das Nações Unidas, revelou novamente os limites da legalidade internacional diante da lógica de poder. Esse mesmo Conselho demonstrou pouca capacidade para conter ou evitar conflitos mais recentes, como os que ocorrem no Leste Europeu e no Oriente Médio. Desde 2019, os Estados Unidos vêm bloqueando a nomeação de juízes para o Órgão de Apelação da OMC, paralisando o sistema multilateral de solução de controvérsias comerciais. A forma como potências ocidentais tratam o conflito Israel-Palestina, por sua vez, evidencia a aplicação seletiva das normas internacionais, moldadas não por princípios universais, mas por interesses estratégicos.
Apesar da hipocrisia e das violações constantes por países poderosos, a ordem liberal não desabou – e suas normas ainda resistem, mesmo que sob tensão. Embora ocasionalmente violado, o aparato normativo da ordem contemporânea continua a oferecer referências valiosas para o exercício da política externa e da diplomacia. O principal desafio à governança global não parece ser a rejeição completa de um “sistema baseado em regras”, mas saber se a ordem atual é capaz de funcionar de uma forma verdadeiramente multipolar, em uma época na qual o poder está menos concentrado do que no passado. Resta saber, também, em que medida os países mais poderosos ainda irão recorrer às instituições internacionais – e a suas normas e regras – para orientar suas ações externas.
OS CUSTOS DISTRIBUTIVOS DA GLOBALIZAÇÃO E A NOVA ERA DE COMPETIÇÃO ESTRATÉGICA
Outra marca definidora da ordem liberal foi a integração econômica promovida pela globalização. Impulsionada pela abertura comercial e financeira das décadas de 1990 e 2000 – e acelerada pelo avanço das tecnologias de comunicação –, a globalização parecia um processo inevitável, quase irresistível: derrubava barreiras, diluía fronteiras e ditava aos governos a adesão como condição de sobrevivência. Resistir significava correr o risco de isolamento e irrelevância no novo cenário global.
Com o tempo, a globalização passou a ser vista como fonte de desigualdade e insegurança. Ela gerou “custos distributivos diferenciados”: um termo elegante para dizer que há ganhadores e perdedores. Os ganhos eram difusos e graduais; as perdas, concentradas e imediatas.
A globalização aumentou a interdependência entre nações, mas preservou importante componente geopolítico de competição entre os países. A interdependência não significou harmonia. A globalização não apagou os atritos advindos de um processo complexo de redesenho das cadeias produtivas; tampouco eliminou os custos da perda de autonomia na gestão macroeconômica. Em alguns casos, a globalização foi fonte adicional de conflitos. Um exemplo notório foi a relação econômica dos Estados Unidos com a China.
O crescimento econômico da Ásia, especialmente da China, foi um dos legados históricos mais relevantes da globalização. A prosperidade do gigante asiático veio a reboque de uma aproximação com os Estados Unidos e com outros países ocidentais. No início dos anos 2000, analistas descreveram a relação econômica entre Washington e Pequim como um casamento econômico, batizado de Chimérica (Ferguson 2009). Esse casamento durou bem até a crise financeira de 2008, quando se encaminhou para um divórcio contencioso.
A Chimérica teria surgido em 2001, quando a China ingressou na OMC, integrando sua força de trabalho maciça e seu excedente de poupança aos fluxos da globalização. Essa aproximação possuía algumas vantagens: abriria o mercado chinês para investimentos externos e apoiaria o crescimento econômico global. A economia americana, por sua vez, seria beneficiada pelo acesso a produtos mais baratos, pela expansão global de suas empresas e pelo aumento dos fluxos financeiros. A interdependência econômica poderia, ainda, promover uma convergência de interesses políticos entre Washington e Pequim, reduzindo a rivalidade e os riscos de conflito.
A Chimérica, no entanto, estava assentada em frágil equilíbrio. Na China, a estratégia de crescimento econômico priorizou o aumento da capacidade produtiva em setores variados. O aumento dessa capacidade atraiu empresas estrangeiras, que transferiram suas fábricas – ou parte de suas cadeias produtivas – para o gigante asiático. Com a demanda doméstica incapaz de absorver o excesso de produção, a China passou a exportar mais, a preços bastante competitivos. Essa dinâmica gerou custos distributivos que levaram a uma mudança de opinião sobre os benefícios da abertura comercial.
Nos Estados Unidos, o impacto do chamado “choque da China” foi profundo. Durante a década de 2000, a crescente integração com a economia chinesa afetou a força de trabalho industrial americana de forma mais intensa do que choques anteriores, como os causados pelo aumento das importações da Alemanha ou do Japão (Smith 2024). Muitos trabalhadores afetados não conseguiram se reinserir no mercado, enquanto outros passaram a depender de assistência social. Esse cenário transformou a percepção americana sobre os benefícios do livre comércio – um descontentamento que foi explorado politicamente por Donald Trump.
A mudança de opinião no Ocidente sobre os benefícios da globalização reflete uma transformação significativa na narrativa sobre o mundo pós-1989. Com o fim da Guerra Fria, diversos políticos e analistas acreditaram que o Ocidente permaneceria inalterado devido ao seu triunfo, enquanto o restante do mundo mudaria. Nas primeiras décadas do século XXI, tornou-se evidente que a globalização transformou os países ocidentais tanto quanto transformou outras regiões. Com a ascensão econômica da Ásia, em especial da China, os “vencedores” da Guerra Fria no Ocidente passaram a projetar-se como os verdadeiros “perdedores”.
A era de ouro da globalização foi marcada pela maximização dos ganhos absolutos, pela crença nos benefícios mútuos da interdependência econômica, pela expansão do livre comércio e pelo recurso a normas multilaterais para resolver disputas. Esse cenário mudou. Hoje, o foco passou a ser nos ganhos relativos, nos riscos da interdependência e no uso de medidas unilaterais – como tarifas e sanções – para fins políticos e estratégicos.
Esse novo cenário tem levado a uma reestruturação das leis e das instituições que governam o comércio e os investimentos internacionais, influenciando as decisões de investimentos das empresas (Roberts, Moraes & Ferguson 2019). Atualmente, é possível observar uma fragmentação, em linhas geopolíticas, da integração econômica.
AS TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO: ENTRE REDES E HIERARQUIAS
A ordem internacional do pós-Guerra Fria também foi moldada pelo desenvolvimento tecnológico. Das grandes navegações às armas nucleares, inovações tecnológicas redefiniram as relações internacionais. A Internet, em particular, revolucionou a sociedade contemporânea ao reduzir custos de comunicação e ampliar o acesso à informação. Ao mesmo tempo, ela também exacerbou divisões políticas, criou bolhas e grupos autorreferenciados, além de ter ajudado na difusão de mentiras e fake news, influenciando a política global.
O desenvolvimento da Internet acentuou uma tensão histórica entre redes e hierarquias. Como destaca o historiador Niall Ferguson em “A praça e a torre” (2018), redes sociais desafiaram estruturas centralizadas de poder. Ferguson ilustra essa dinâmica contrapondo “a praça”, onde emergem redes descentralizadas, e “a torre”, símbolo de controle hierárquico. Tecnologias como a prensa de Gutenberg, no século XV, já haviam deslocado essa balança ao impulsionar a difusão do conhecimento, o que possibilitou eventos como a Reforma Protestante e o Iluminismo.
A Internet segue tal lógica de ruptura. Essa tecnologia redefiniu o mercado de trabalho, o comércio, a política, as finanças e a comunicação. Ela criou um espaço novo em que as relações sociais prosperam: o mundo digital. No entanto, seu legado não é isento de desafios. Se, por um lado, a Internet democratizou o acesso à informação, por outro facilitou a disseminação de notícias falsas, a vigilância digital e a manipulação da opinião pública. Redes sociais, em especial, fortaleceram a formação de bolhas e facilitaram a divulgação de mentiras e de teorias da conspiração.
Como observa Yuval Harari (2024), informação não é sinônimo de verdade. A Internet ampliou o fluxo de informações, ao mesmo tempo que facilitou a difusão de narrativas, sejam elas verdadeiras ou não. As redes sociais, em particular, promoveram a dissociação entre informação e verdade, pois essas plataformas dependem do engajamento constante de usuários para sobreviver. É mais fácil engajar as pessoas por meio de narrativas do que pela busca dolorosa e demorada pela verdade.
No mundo digital, o consumo de informações ocorre de forma dinâmica. Hoje, parte significativa da população no Ocidente obtém notícias por meio de redes sociais, como “X” (ex-Twitter), Facebook, Instagram e TikTok. Essas plataformas permitem que os seus usuários não fiquem limitados ao papel de meros consumidores. Eles geram conteúdo. Eles interagem: respondem, comentam, compartilham e disseminam suas perspectivas por meio de afinidades pessoais.
Essas redes sociais operam por uma lógica de “apegos preferenciais”, promovendo a conexão entre aqueles que compartilham visões de mundo, opiniões e crenças. Para ampliar o engajamento, premia-se o exagero, recompensa-se o grito, pune-se a prudência. Os algoritmos que gerem tais plataformas promovem discursos apaixonados e polarizadores, que amplificam divisões no contexto das disputas políticas atuais.
Tais redes sociais também desempenharam um papel crucial na crise de confiança que abala muitas sociedades. Essas tecnologias permitiram que indivíduos tenham o mesmo tipo de alcance e influência que antes era privilégio de grandes organizações. Com isso, possibilitaram uma transferência de confiança de instituições para personalidades – por exemplo, da mídia tradicional para “podcasters”; de médicos e cientistas para “influencers”; de partidos políticos para “outsiders”. Essa perda de confiança também se manifesta no sucesso das criptomoedas, que prosperam no mundo digital em um contexto de ceticismo em relação a ativos financeiros convencionais.
Cabe ressaltar, ainda, que as tecnologias de redes, como a Internet, não eliminaram as hierarquias; pelo contrário, concentraram poder nas mãos de grandes empresas de tecnologia – as famosas “big techs”. Essas empresas controlam o tráfego e a coleta de dados de bilhões de usuários; influenciam o acesso e a difusão de informações por meio de algoritmos; e, em muitos casos, rivalizam com governos em poder e influência. Muitas dessas empresas são lideradas por CEOs ambiciosos, que frequentemente as utilizam para avançar interesses pessoais.
No mundo globalizado, os desafios associados ao exercício do poder – seja ele nacional ou internacional – foram intensificados pela digitalização. As disputas políticas e sociais migraram para o espaço virtual, exigindo novos mecanismos para lidar com questões como privacidade, regulação de conteúdo, liberdade de expressão e combate à desinformação. A relevância do mundo digital também impôs desafios estratégicos aos países, que competem para o desenvolvimento de chips, semicondutores e processadores de dados para treinar novas tecnologias, como os sistemas de Inteligência Artificial.
Embora tenha trazido avanços significativos, a Internet também revelou limitações e contradições que continuam a moldar o equilíbrio de poder no sistema internacional. Essa tecnologia, a princípio, representou uma poderosa força de coesão, mas que se mostrou suscetível a terríveis forças de dissonância.
REVISITAR O PASSADO PARA ENTENDER O FUTURO DA ORDEM LIBERAL
A ordem liberal tem atravessado transformações profundas em pilares essenciais à sua sustentação: nas ideias que moldam a política; nos regimes e instituições internacionais; na globalização econômica; e nas tecnologias de comunicação e de redes. Movimentos de fragmentação interna causaram fraturas visíveis no arcabouço que sustenta a ordem. Um mundo fraturado, porém, não significa um mundo em ruínas. O caminho silencioso ao abismo não é inevitável.
A história não segue uma trajetória linear de progresso constante. Ela é marcada por descontinuidades – por períodos de paz e estabilidade interrompidos por guerras, conflitos e retrocessos. Essa falta de linearidade, contudo, não nega a existência de progresso. Mesmo de forma irregular, é possível observar avanços significativos no desenvolvimento humano, especialmente no que diz respeito às aspirações por liberdade, justiça, paz e segurança.
Mais importante do que tentar prever o futuro é olhar para o passado e identificar tendências. Revisitar o passado é essencial para compreender o presente, pois cada evento significativo carrega nuances que desconstroem narrativas simplistas. Um exemplo paradigmático é o ano de 1989, que simboliza tanto o triunfo da ordem liberal quanto as contradições que surgiriam para desafiá-la.
Em 1989, a queda do Muro de Berlim marcou o fim da Guerra Fria e consolidou o poder das democracias de mercado. No entanto, eventos paralelos evidenciaram a complexidade daquele momento histórico. Em Cabul, grupos islâmicos fortaleceram a crença de que poderiam derrotar uma superpotência, a União Soviética. Em Pequim, a repressão na Praça da Paz Celestial demonstrou a capacidade do Partido Comunista Chinês de desassociar a abertura econômica da abertura política. Esses eventos desafiam a ideia de 1989 como um marco inequívoco do triunfo liberal, revelando um passado mais complexo e multifacetado.
Essa complexidade serve para descartar análises simplistas sobre a ordem contemporânea. O professor indonésio Amitav Acharya (2017), por exemplo, argumenta que vivemos em um “mundo multiplex”, caracterizado por interconexão e interdependência, mas também por uma pluralidade de arranjos internacionais que coexistem – e, por vezes, competem. Segundo Acharya, eventos como a eleição de Donald Trump e o Brexit expuseram diferenças, dentro do próprio Ocidente, sobre a configuração da ordem liberal, desafiando a narrativa de que o mundo pós-Guerra Fria seria caracterizado por uma disputa entre “o Ocidente e o resto” (the West versus the Rest).
Esse “mundo multiplex” não é definido pela hegemonia de uma nação ou de uma ideologia. Acharya enfatiza que a ordem liberal seria apenas uma entre várias estruturas que competem em um ambiente global complexo. Para os estudiosos de relações internacionais, isso exigiria cautela em relação às interpretações convencionais. Um mundo fraturado, por exemplo, não está fadado a ser o que Ian Bremmer e Nouriel Roubini (2011) chamam de “mundo G-Zero” – em que “nenhum país ou bloco de países possui condições políticas e econômicas para conduzir uma agenda verdadeiramente global”. De acordo com o professor indonésio, um mundo multiplex é um mundo “G-Plus”, no qual a liderança compartilhada entre as potências ocidentais e as potências emergentes se mostra mais viável do que a manutenção rígida do poder em poucas mãos.
A fragmentação da ordem tampouco significa caos absoluto, mas sim a oportunidade de criar e adaptar cursos de ação às especificidades de cada contexto. Países em desenvolvimento, por exemplo, poderão exercitar maior flexibilidade e criatividade em sua política externa. No atual cenário, é possível adotar estratégias variadas para avançar os interesses nacionais: diversificar parcerias para reduzir vulnerabilidades; manter uma postura de neutralidade estratégica em disputas geopolíticas; implementar mecanismos de mitigação de riscos diante de choques econômicos e políticos; e defender reformas nas instituições internacionais para torná-las mais representativas e eficazes.
Além disso, a criação de estruturas alternativas – seja por meio de blocos regionais, novas alianças ou mecanismos de cooperação flexíveis – permite que os países ampliem seus espaços de manobra, reduzam dependências excessivas e exerçam maior protagonismo na definição das regras globais. A fragmentação da ordem, portanto, longe de ser um entrave, pode ser um motor de inovação e adaptação na condução da política externa.
Regimes e instituições internacionais também possuem flexibilidade e podem ser reformados ou adaptados às novas circunstâncias. Um exemplo disso é o regime multilateral de comércio, que sofreu um revés significativo com a paralisação do Órgão de Apelação da OMC. Essa crise, no entanto, não significou um colapso completo do sistema. Em resposta, diferentes mecanismos de solução de disputas comerciais foram desenvolvidos, especialmente por meio de novos acordos. Exemplos incluem o Mecanismo Provisório de Arbitragem de Apelação (MPIA, na sigla em inglês), criado por um grupo de membros da OMC, e o Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica.
Outro exemplo de adaptação a um mundo fraturado é o regime de mudança do clima. Embora marcado por dificuldades para controlar emissões de gases de efeito estufa, por falta de recursos, por desrespeitos aos compromissos já firmados, esse regime tem sido marcado por uma proliferação de iniciativas paralelas, como compromissos subnacionais, alianças setoriais e instrumentos financeiros específicos, que visam oferecer novos caminhos diante dos obstáculos enfrentados.
Arranjos regionais também desempenham um papel relevante na promoção da governança em uma ordem mais fragmentada. No comércio, por exemplo, a Parceria Transpacífica, o Acordo Regional de Parceria Econômica na Ásia e o Mercado Comum do Sul (Mercosul) contribuem para facilitar trocas comerciais e investimentos em um contexto no qual há pouca disposição para grandes acordos multilaterais. Ainda, organizações regionais têm ampliado a cooperação em defesa e combate ao crime organizado. A União Africana e a ASEAN têm desenvolvido mecanismos próprios para lidar com crises políticas e humanitárias.
Por fim, vale enfatizar: a ordem liberal não deve ser vista como uma estrutura rígida, em completo declínio, fadada ao fracasso. Em oito décadas, ela demonstrou qualidades e deficiências, alternando momentos de estabilidade e desordem. Ainda assim, ela sobreviveu porque diferentes sociedades e governos reconheceram nela vantagens que justificam sua preservação.
No mundo fraturado em que vivemos, novas formas de governança global podem emergir. Nenhuma sociedade, nem mesmo a internacional, é uma tela em branco. A política global não ocorre no vácuo, mas dentro de uma ordem construída ao longo do tempo – e que continua a oferecer referências valiosas para diminuir os custos da anarquia internacional. Qualquer tentativa de reconfiguração da governança global precisará lidar com a ordem existente, equilibrando inovação e continuidade.
Notas
[1] As opiniões expressas neste artigo não representam as opiniões do ministério das Relações Exteriores do Brasil, do ministério do Planejamento e Orçamento ou do governo federal brasileiro. Elas são inteiramente de responsabilidade do autor.
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Recebido: 10 de fevereiro de 2025
Aceito para publicação: 7 de julho de 2025
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